Atualmente 10% de todo café consumido no mundo é destinado à descafeinação. O mercado para esse tipo de produto tem sido abastecido pela indústria, que utiliza a extração química para retirar a cafeína do café, aumentando o custo final para o cliente.
No entanto, uma pesquisa realizada por Maria Bernadete Silvarolla e Luiz Carlos Fazuoli, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), e pelo professor Paulo Mazzafera, do Instituto de Biologia da Unicamp e divulgada recentemente, chamou a atenção da comunidade científica mundial. Essa pesquisa foi tema de uma matéria publicada na revista inglesa Nature áo último dia 24.
Os pesquisadores identificaram três plantas quase completamente livres de cafeína nas sementes. Enquanto o café comum tem em torno de 1% de cafeína nas sementes, essas cultivares apresentam 0,07% dessa substância, o que é considerado muito reduzido, próximo da quantidade existente no café descafeinado encontrado no mercado.
A fim de encontrar cafés com baixa cafeína, os pesquisadores assumiram o caminho que Bernadete chama de natural. Eles analisaram três mil plantas do cafeeiro arábica da Etiópia, de 300 famílias desse tipo de cafeeiro. Esse trabalho de garimpo começou em 1999. "O IAC trabalhou de forma sistemática, acreditando que a natureza poderia prover um mutante natural, e foi encontrado", relata a pesquisadora.
As três plantas descafeinadas encontradas foram denominadas como AC1, AC2 e AC3. A sigla AC significa Alcides Carvalho e é uma homenagem ao mais importante pesquisador da cafeicultura brasileira. Ele trabalhou no IAC da década de 30 até 1993, quando faleceu, e foi um grande colaborador para a formação do banco de germoplasma de café.
Com a descoberta dos cafés naturalmente descafeinados, os pesquisadores acreditam que usando técnicas de melhoramento convencional a característica de baixa cafeína pode ser transferida com sucesso para outras variedades de Coffea arábica que hoje são cultivadas pelos produtores, uma vez que as hibridações serão feitas dentro da mesma espécie.
Segundo Bernadete Silvarolla, os cafeeiros silvestres da Etiópia analisados, que não sofreram variabilidade genética, não têm a mesma produção das variedades de elite, que são as já cultivadas. Por isso, acredita-se que será necessário fazer o cruzamento do material silvestre com as cultivares já plantadas. Os pesquisadores também vão testar o material na forma como está, sem melhorá-lo, e avaliar o desempenho dele no campo, se atende às exigências do produtor.
Notícia
Jornal de Brasília