Fapesp e Sabesp assinam acordo de cooperação para desenvolvimento de pesquisa em áreas ligadas a saneamento. Instituições investirão até R$ 50 milhões no apoio a projetos de pesquisa
A Fapesp e a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) assinaram, na tarde desta terça-feira (12/5), em São Paulo, um acordo de cooperação para desenvolvimento de pesquisas aplicadas no setor de recursos hídricos e saneamento.
O acordo prevê um investimento de até R$ 50 milhões, sendo metade de cada instituição, ao longo de cinco anos, voltados para o financiamento de projetos propostos por pesquisadores de universidades e institutos de pesquisa paulistas e da empresa de saneamento. As chamadas de propostas serão divulgadas nos próximos dias.
O evento de assinatura do acordo, realizado na sede da Fapesp, foi aberto por Celso Lafer, presidente da Fundação, seguido por Carlos Vogt, secretário de Estado de Ensino Superior, Dilma Seli Pena, secretária de Estado de Saneamento e Energia, Gesner Oliveira, presidente da Sabesp, e Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fapesp.
O acordo prevê foco em sete temas de pesquisa: “Tecnologia de membranas filtrantes nas estações de tratamento de água e de esgoto”; “Alternativas de tratamento, disposição e utilização de lodo de estações de tratamento de água e estações de tratamento de esgotos”; “Novas tecnologias para implantação, operação e manutenção de sistemas de distribuição de água e coleta de esgoto”; “Novas tecnologias para melhorias dos processos de operações unitárias”; “Monitoramento da qualidade da água”; “Eficiência energética”; e “Economia do saneamento”.
Segundo Lafer, o desafio da melhoria nos processos de tratamento de água e esgoto, a fim de melhorar o bem-estar da população, tem abrangência global e deve ser visto como prioritário. “Como estudioso das relações internacionais, tenho consciência da importância global da água como bem escasso e precioso”, disse.
“Estou convencido de que essa cooperação representa uma estratégia de importância para que uma empresa pública paulista possa consolidar seus esforços em pesquisa e desenvolvimento”, destacou.
De acordo com Vogt, o esforço para garantir o acesso aos recursos hídricos é essencial por seus impactos sociais e econômicos. “É fundamental que a Fapesp tenha em sua filosofia e em sua orientação programática uma ênfase nos acordos com o setor empresarial, otimizando a busca de objetivos comuns. Neste caso, essa parceria é ainda mais importante por se tratar de uma empresa estatal relacionada à questão da água, um tema candente que é prioridade absoluta no cenário internacional”, afirmou o secretário.
Brito Cruz explicou que o acordo tem o objetivo de buscar temas de pesquisa relevantes para a empresa de modo a promover avanços tecnológicos.
“O formato do acordo de cooperação, que terá chamadas para propostas de pesquisa, permite que todos os pesquisadores possam ter seus projetos avaliados. Do ponto de vista do avanço da ciência isso é importante, pois aumenta a chance de se encontrar boas ideias”, disse.
Segundo o diretor científico, a ideia do acordo com a Sabesp foi atraente para a Fapesp, uma vez que a empresa mostrou possuir uma estratégia de desenvolvimento de pesquisa que não se resume ao acordo.
“É uma satisfação especial para a Fapesp poder contribuir com uma empresa tão importante para o Brasil, favorecendo sua entrada em uma nova estratégia de valorização do conhecimento e das atividades de pesquisa. Achamos importante o fato de a Sabesp estar dedicada a expandir suas atividades científicas e a destacar a importância de ter pesquisadores dentro da empresa”, afirmou.
Brito Cruz explicou que o acordo de cooperação se insere nas formas de apoio da Fapesp voltadas a pesquisas que visam a aplicação – o que corresponde a cerca de 16% de seu orçamento. A Fundação dedica metade de seus recursos à pesquisa acadêmica – isto é, proposta pelo pesquisador sem orientação externa – e aproximadamente um terço à formação de recursos humanos por meio de bolsas.
“Temos o princípio de que, se o pesquisador tem bons argumentos para defender que sua pesquisa é boa para aplicação, ele deverá ser capaz de sensibilizar também empresas dispostas a financiá-la. Esse tipo de acordo ajuda a empresa a vencer obstáculos e a cumprir melhor seu papel. Por isso temos feito diversas experiências nesse sentido”, disse.
Brito Cruz ressaltou que esse é um dos maiores acordos de pesquisa cooperativa estabelecidos pela Fundação. “Esperamos uma resposta muito participativa da comunidade de pesquisa ao edital que será anunciado”, disse.
Para a coordenação das atividades da cooperação entre a Fapesp e a Sabesp será formado um comitê gestor constituído por dois representantes de cada instituição. Entre os critérios que serão utilizados para seleção e análise de propostas de pesquisa está o potencial de implantação de resultados nos mercados interno e externo.
Também participaram do evento na sede da Fapesp Eduardo Pedrosa Cury, prefeito de São José dos Campos (SP), Sérgio Robles Reis de Queiroz, coordenador adjunto de Pesquisa para Inovação da Fapesp, Marcelo Salles Holanda de Freitas, diretor de Tecnologia, Empreendimentos e Meio Ambiente da Sabesp, e Adolpho José Melfi, professor titular e ex-reitor da Universidade de São Paulo.
Foco em inovação
Segundo Gesner Oliveira, a filosofia por trás do acordo Fapesp-Sabesp é que a inovação é o motor do crescimento. “Vivemos um momento do saneamento em que a inovação é particularmente importante, por três razões: há um aumento das demandas ambientais, a regulação está mais rigorosa graças à atuação do Estado e há um ambiente mais competitivo, já que a Sabesp não atua como monopólio. Essas três circunstâncias mudaram o quadro e exigem um salto que só poderá ser efetuado com proatividade”, disse.
O presidente da Sabesp sustentou que a empresa está dedicada a promover a proatividade em suas 17 unidades que atendem a 336 municípios. “Para isso, estamos investindo nas parcerias com municípios, com instituições como a Fapesp e com universidades e institutos de pesquisas”, disse.
A necessidade de investir em pesquisa, segundo Oliveira, justifica-se por estatísticas encontradas na literatura internacional: as empresas que inovam apresentam indicadores melhores – especialmente em relação à produtividade, em média 50% maior.
“A Sabesp é a quinta maior empresa do mundo da área de saneamento e tem apenas 0,05% de seu faturamento aplicado em pesquisa e desenvolvimento. Queremos incrementar essa proporção. As maiores empresas, como a Veolin e a GDF-Suez, gastam respectivamente 0,46% e 0,22% de seus orçamentos com atividades voltadas à inovação”, explicou.
A meta da Sabesp, segundo Oliveira, é universalizar todos os seus serviços até 2018. Por enquanto, 111 municípios têm 100% de atendimento de fornecimento de água, coleta e tratamento de esgoto. “Atingir essa meta exigirá um esforço monumental de aumento da eficiência operacional e mais alternativas para um consumo criterioso e cidadão dos recursos hídricos”, afirmou.
O novo marco regulatório, estabelecido nos últimos anos, segundo Oliveira, ampliou o escopo do saneamento. O foco da empresa continuará sendo os serviços relacionados ao fornecimento de água e redes de esgoto. Mas também haverá espaço para ampliação dos serviços em áreas como drenagem e manejo de águas pluviais urbanas e drenagem de resíduos.
“A prioridade da empresa em 2009 é investir na nova área de pesquisa e desenvolvimento, com ampliação da nossa rede de pesquisadores, atuando assim de forma proativa para induzir à universalização dos serviços. O plano é aumentar os recursos em pesquisa dos R$ 3,50 milhões investidos em 2008 para R$ 11,12 milhões em 2014, considerando apenas os recursos da Sabesp”, disse.
Além do acordo com a Fapesp, a concessionária paulista acertou, durante o evento, um convênio com a prefeitura de São José dos Campos (SP) para a criação do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento em Tecnologias de Recursos Hídricos.
Mais informações sobre o acordo de cooperação Fapesp-Sabesp: http://www.fapesp.br/materia/5172
Agência Fapesp
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