Neste artigo, resumo de nota técnica a ser publicada na Carta de Conjuntura da Universidade Municipal de São Caetano do Sul ( uscs ) no início de 2023, abordamos a importância do aprofundamento das políticas de fortalecimento da Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) tecnológica no estado. Este é um tema central para os atores e instituições da economia estadual. Mas também interessa à classe trabalhadora e aos segmentos de baixa renda da população paulistana.
Segundo o IBGE, o estado de São Paulo respondeu por 31,2% do PIB em 2020. Essa força é resultado histórico da capacidade do estado de se posicionar no centro da dinâmica econômica em diferentes momentos da história.
Entre o final do século XIX e início do século XX com a economia cafeeira;
De 1930 a 1980, com a indústria de transformação;
E de lá para cá com a economia de serviços, com destaque para o setor financeiro, TI e Comunicação.
Mas, com a globalização e o conjunto de mudanças estruturais que ela trouxe, São Paulo vem perdendo peso na economia nacional.
Nesse sentido, o Estado vive a necessidade de responder a grandes desafios. Entre elas, revitalizar e modernizar seu parque fabril, combater a desindustrialização e aumentar a competitividade deste segmento. A ainda expande um agronegócio já de peso. E também estar na fronteira tecnológica das atividades de serviços. Principalmente aquelas que envolvem grandes volumes de recursos e grandes cadeias de negócios, como saúde, educação, finanças, marketing, entre outras.
E tudo isto ligado aos desafios da criação de emprego, inclusão social e combate à pobreza. Nesse ponto, vale destacar que um dos debates importantes é: até que ponto as transformações tecnológicas podem contribuir efetivamente para o desenvolvimento social. Veja-se, por exemplo, o caso do sistema financeiro.
As fintechs – que são as atuais empresas inovadoras do setor – podem de fato proporcionar às pessoas maior acesso à abertura de contas, pagamentos, crédito, investimentos, entre outros itens?
Para vários estudiosos, além de aumentar a produtividade e a eficiência dos serviços, a digitalização traz a possibilidade de aumentar a inclusão social, mas isso exige que, principalmente nos países emergentes, diversos outros desafios sejam enfrentados, como macroeconomia, volatilidade política, informalidade e situações de fraude e vi0lência*.
Após esta breve digressão específica do setor financeiro, voltemos a observar que uma solução que permeia estes desafios econômicos do Estado reside na construção de um amplo programa de articulação de atores e instituições na área de P,D&I, reunindo governos, setor produtivo, universidades, startups, laboratórios, centros de pesquisa, parques tecnológicos, sindicatos patronais e de trabalhadores, entre outros.
A maior densidade e articulação das instituições que compõem o ecossistema de inovação no Estado permitirá que os desafios da indústria, do agronegócio e dos serviços tenham respostas inovadoras advindas da área de PD&I.
Outro resultado desta articulação, que deve mesmo ser considerado como um objetivo, é a inclusão social, uma vez que vários dos desafios sociais (habitação, alimentação, educação, entre outros) podem ser objeto de soluções inovadoras sugeridas por estas instituições e empresas, especialmente iniciantes.
Estas empresas, que fazem uso intenso das novas tecnologias digitais, representam, hoje em dia, uma fonte potencial de inovação. Isso porque desenvolvem novas soluções para produtos, processos e modelos de negócios. Além disso, as grandes empresas, ao implementarem a inovação aberta com o objetivo de reduzir custos, veem as startups como um fator que promove a inovação.
O caso da Califórnia mostra a importância dessa parceria entre grandes empresas e startups para encontrar novas soluções, reduzir custos e aumentar a competitividade.
O estado responde por mais de dois terços dos investimentos em PD&I do país. E reúne um quarto das instituições de ensino superior do Brasil, com diversas universidades públicas e privadas de ponta, além de diversas escolas técnicas.
No Brasil, mais de 30% das startups estão localizadas no estado de São Paulo. Pesquisa da Fapesp/Seade mostrou a preponderância do estado em termos de inovação.
O Sistema Paulista de Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) é composto por 64 instituições de pesquisa (40 públicas e 24 privadas sem fins lucrativos). Além disso, possui 73 instituições de ensino superior (19 públicas e 54 privadas). E também 12.831 empresas com atividades internas de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D).
São dezenas de parques tecnológicos e institutos de pesquisa nas áreas de Ciências Agrárias, Ciências Biológicas, Ciências Exatas, Ciências Humanas, Ciências da Saúde, Ciências Sociais Aplicadas, Engenharias, entre outras.
Apesar da enorme infraestrutura na área de PD&I no estado, bem como da existência de um grande contingente de recursos humanos qualificados, ainda há muito o que avançar no campo das políticas públicas e privadas no estado. Há, há décadas, uma desarticulação quase total dessa imensa infraestrutura e recursos humanos do Estado.
A articulação de PD&I permitirá:
Aumentar a competitividade regional e, assim, frear a queda da participação do Estado de SP no PIB; atrair investimentos para o Estado de SP;
Integrar os diversos setores da economia do Estado (indústria; educação; saúde; finanças; agronegócio; comércio; construção civil, entre outros);
Combinar as ações do Estado de SP com as do Governo do Presidente Lula na área de P,D&I, que certamente será uma das prioridades do Governo;
Gerar empregos de qualidade.
É nossa intenção contribuir para essa articulação de instituições, atores e parlamentares, especialmente por meio da criação de uma frente, reunindo sociedade civil e órgãos públicos, para promover o debate sobre as melhores políticas e ações públicas e privadas nessa área.
A ação conjunta e coordenada permitirá:
a) interação com diversos setores da economia e da sociedade paulista, incluindo: educação, saúde, finanças, comércio, indústria, agronegócio, construção civil, TI (tecnologia da informação), entre outros;
b) dialogar com os interesses e vocações de todas as regiões e cidades do Estado de São Paulo;
c) a construção de políticas de apoio a jovens empreendedores de base tecnológica, como startups;
d) encontrar soluções e políticas inovadoras na área de inclusão social, com apoio da área de PD&I, favorecendo bairros e comunidades periféricas do Estado de São Paulo.
Ana Carolina Davanco É economista e mestre em Administração.
Luiz Cláudio Marcolino É economista, ex-presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região e eleito deputado estadual por São Paulo.