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Pesquisa de qualidade é cara (3 notícias)

Publicado em 27 de julho de 2019

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Por Antônio Gois

O custo por aluno na USP – maior universidade pública do país em número de alunos e produção científica – foi de R$ 53 mil ano em 2017, considerando os estudantes da graduação e pós-graduação e excluindo gastos com inativos e hospitais. É um valor significativo, mas é muito menos do que gastam, pelos mesmos critérios, universidades de ponta no mundo, de acordo com dados publicados na edição deste mês da revista da Fapesp (Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo). Outras duas estaduais paulistas - Unicamp (R$ 57 mil) e Unesp (R$ 39 mil) – também foram comparadas a 21 instituições públicas e privadas de alto nível no Reino Unido e Estados Unidos, numa análise que considerou o poder de paridade de compra de cada moeda na conversão para Reais. 

Os maiores valores foram registados no MIT (R$ 638 mil), em Stanford (R$ 617 mil) e em Princeton (518 mil). Em Harvard, também uma universidade privada de elite, esse valor é de R$ 328 mil. Nas públicas americanas listadas, o valor por aluno variou de R$ 105 mil em Maryland a R$ 236 mil na Universidade da Califórnia. Nas três públicas do Reino Unido, os valores foram R$ 321 mil em Oxford, R$ 244 mil em Cambridge, e R$ 151 mil no Imperial College.

Além do fato principal de não sermos um país rico, uma das explicações para esse abismo é que a USP tem um número significativo de alunos de graduação: eram 59 mil matrículas em 2017, além de outras 30 mil na pós. É, portanto, uma instituição com foco na pesquisa, mas, ao mesmo tempo, com importante papel na oferta de vagas, algo que ocorre também com as federais de grande porte no Brasil. Em Harvard, por exemplo, o número de estudantes de graduação é de apenas 10 mil (na pós, são 21 mil). 

O investimento em pesquisa de qualidade é essencial para o desenvolvimento do país, mas custa caro. E, mesmo nesses países ricos, é o governo, e não a iniciativa privada, o principal financiador. A participação estatal chega a 60% nos EUA e a 77% na Europa, segundo dados divulgados pelo Jornal da USP. Mesmo universidades privadas de elite recebem substanciais recursos públicos. Um relatório divulgado em 2017 pela organização Open The Books, dedicada a aumentar a transparência dos gastos públicos nos Estados Unidos, revelou que as oito universidades privadas de elite que compõem a chamada Ivy League (Brown, Columbia, Cornell, Dartmouth, Harvard, Pennsylvania, Princeton e Yale) receberam entre 2010 e 2015 um total de US$ 42 bilhões do governo federal, na forma de investimento em pesquisas ou renúncias fiscais. 

Convertendo o Dólar para o Real pelo câmbio simples, foram R$ 157 bilhões, ou R$ 26 bilhões por ano, que o governo americano destinou a apenas oito instituições privadas. Para efeito de comparação, o orçamento inteiro do MEC previsto neste ano para todas as universidades federais é de R$ 35,5 bilhões. 

Na semana passada, o governo federal apresentou uma proposta para modernizar a gestão das federais e estimular parcerias com o setor privado. Como esperado, parte dos especialistas criticou o projeto por enxergar nele um caminho para a privatização da educação pública, enquanto outros viram aspectos positivos na tentativa de melhorar a eficiência da gestão e ampliar a captação de recursos fora do setor público. São visões de mundo distintas, o que faz parte da democracia. Ampliar as fontes de financiamento de universidades públicas facilitando o investimento privado não é, em si, um problema. O risco é achar que isso será capaz de substituir o necessário investimento público no setor, num país em que mais de 90% da pesquisa acadêmica é feita em instituições do Estado.