*Por Winycius Morais
Já percebeu como os adultos evitam falar sobre determinados assuntos perto das crianças? Muitos buscam proteger sua suposta “inocência” em relação àquele tema, mas há outros que acreditam que elas não são capazes o suficiente para entender o que está sendo discutido, devido à sua falta de maturidade. No entanto, seria essa atitude benéfica aos mais novos?
Enquanto educador, percebo o vasto potencial comunicativo dos jovens. Eles sempre têm algo a dizer sobre alguma pauta, principalmente quando se sentem à vontade. Mesmo quando pensamos que não são capazes de opinar — como quando falamos de política –, eles facilmente conseguem expressar o que sentem. Estudar a respeito da participação política infantil me possibilitou compreender quão importante é valorizar esse potencial das crianças. Fazer com que os mais novos sintam-se parte da sociedade envolve questioná-los sobre o que pensam, incentivá-los a se expressarem e, além disso, respeitar seus pontos de vista sem um pré-julgamento limitante atrelado à idade.
Privar os jovens de participar de assuntos considerados “adulto” demais para eles é o mesmo que negar sua cidadania. Todo aquele que faz parte da sociedade tem o direito de participar dos debates e decisões sociais, mesmo que talvez possa parecer difícil acreditar que crianças possam sustentar-se em pautas políticas. Contudo, será mesmo que um estudante não consegue contribuir quando se trata, por exemplo, de listar os pontos negativos de sua escolar ou, até mesmo, a respeito do desemprego que afetou sua família? É necessário que haja uma mudança no olhar limitador direcionado aos jovens; afinal, eles também estão inseridos no mesmo contexto social dos adultos.
Quando dizemos que a mudança precisa estar presente na maneira como a sociedade aborda os mais novos, isso significa que, além de serem incentivados por pais e professores a serem mais participativos, é importante que eles sintam-se representados pela mídia, tendo sua cidadania reconhecida e respeitada. Em razão de seu grande alcance e influência, a mídia mostra-se uma ferramenta indispensável para promover a conscientização necessária quanto aos direitos participativos dos jovens. Quando uma criança vê outra criança presente e, mais importante ainda, participando (sendo entrevistada e dando sua opinião em algum veículo midiático), aos poucos, ela passa a entender que sua voz também tem valor.
Em minha pesquisa, um projeto de iniciação científica financiado pela Fapesp (Processo: 21/08256-0), estudei comentários gerados a partir de duas reportagens que mostraram crianças ativistas políticas. Ficou claro que o público apoia jovens que lutam por melhorias na educação, mas consideram inadequado uma criança que luta por causas LGBT, considerado um tema proibido para as crianças. Além disso, é muito comum a ideia, expressa nos comentários de que a criança está sendo manipulada.
Dessa forma, com o objetivo de incentivar comunicadores a tornarem os mais jovens protagonistas de suas produções, deixo abaixo alguns pontos que acredito serem relevantes. Essas percepções farão parte de um manual que vem sendo elaborado por minha orientadora, Juliana Doretto, contendo diretrizes que incentivem produções jornalísticas a darem mais ênfase às manifestações das crianças e adolescentes, rompendo certos estereótipos da condição juvenil.
Ao produzir uma matéria de que uma criança participe, tendo influência naquele assunto (como ativistas, como cidadão, como estudante etc.), é fundamental que o jornalista valorize uma abordagem que protagoniza essa criança. Para tanto, em vez de apenas entrevistar os pais, seria interessante dar prioridade à criança, além de obter informações necessárias como nome, sobrenome e idade, além de perguntar sua opinião e escutá-la atentamente;
É necessário respeitar a cidadania das crianças. Por isso, ao lidar com o público infantil, é importante que o comunicador não faça uso de diminutivos, uma vez que esse tipo de linguagem resgata o estereótipo de inocência e fragilidade atrelado a essa faixa etária, sendo confundido com imaturidade e incapacidade. Ao evitar tratar o jovem dessa maneira, o jornalismo, além de transmitir mais seriedade quanto ao assunto discutido, passa a ajudar a criança a entender que seu papel também é importante e que ela deve participar mais ativamente na sociedade.