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Galileu

Pesquisa da USP comprova eficácia de cosméticos contra o envelhecimento

Publicado em 01 julho 2003

Desde o final do ano passado, dois lançamentos científicos vieram dar força ao mercado de beleza. Em abril, uma pesquisa da USP concluiu que cosméticos, principalmente os de última geração, são mesmo eficientes para prevenir, retardar ou remediar os sinais do envelhecimento. Na mesma época, a Natura, em parceria com a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), lançou um programa para financiar os cientistas que estão nas universidades a buscarem na biodiversidade brasileira novos ativos para cosméticos e fitoterápicos. De acordo com a farmacêutica Luciana Scotti, que fez a pesquisa sobre eficácia dos cosméticos pela USP, a principal arma desses produtos é a prevenção. Segundo ela, 80% dos sinais visíveis do envelhecimento são causados pelo sol, o que faz com que os protetores solares sejam indispensáveis, desde a infância. Não é à toa que há uns 10 anos praticamente todos os cremes anti-rugas e afins trazem na fórmula filtros solares. O protetor evita, mas sozinho não resolve os sinais. Luciana defende que os hidratantes, cremes antioxidantes e os produtos que auxiliam uma melhor troca entre as células são fundamentais e, segundo sua pesquisa, de fato resolvem. Eduardo Luppi, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Natura, explica que a melhora dos produtos ocorreu quando indústria, farmácia e dermatologia resolveram se unir. "A cosmética era meio charlatã, tinha muita promessa e pouco resultado. Hoje usamos derivados de produtos que eram tipicamente dermatológicos, em quantidades menores, e temos resultados muito bons." Segundo ele, programas como o realizado com a Fapesp têm o intuito de fazer com que a própria indústria cosmética desenvolva novas substâncias ativas. A dermatologista Denise Steiner lembra que por definição cosméticos não poderiam interferir na fisiologia da pele. Os novos produtos, diz ela, são mais eficientes que os cremes de antigamente e conseguem melhorar a comunicação entre as camadas da pele, prevenindo as rugas. "Mas fazer com que as células funcionem como na. juventude, não", alerta. "Esses produtos não podem interferir demasiadamente, senão viram remédio, e aí só poderiam ser vendidos com receita. Acho que o apelo mercadológico é maior que a realidade." Denise afirma que a nova geração de cosméticos propicia num primeiro momento uma melhora mais visível. Mas ela não acredita que ocorram mudanças estruturais. Segundo ela, só os medicamentos, como o ácido retinóico, são capazes de fazer isso. "Talvez em breve tenhamos uma mudança de legislação para abrigar esses produtos intermediários", diz a médica, que faz parte da Câmara Técnica de Cosmético da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Mas há quem diga que o termo "cosmecêutico" nem deveria existir e serve mais para efeito de propaganda que para denominar um produto mais potente. "Já tínhamos produtos com eficácia comprovada há muito tempo, mas não sabíamos como eles funcionavam. Com a tecnologia, descobrimos que um inocente hidratante é capaz de estimular a comunicação entre células", diz Emiro Khury, farmacêutico e consultor da Associação Brasileira de Cosmetologia. A diferença, segundo ele, é que os produtos atuais potencializam a ação das substâncias mais ativas. Por outro lado, as vitaminas, conhecidas como bons antioxidantes, apesar de instáveis, já são acrescentadas aos produtos. "As pessoas não se contentam mais em esperar 30 dias até ver os resultados. Elas querem diferenças após 24 horas e é esse o novo desafio da indústria. Hoje o cosmético promete e tem de cumprir."