Uma pesquisa realizada pelo Centro de Pesquisas em Alimentos, o Food Research Center (FoRC), da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (USP), constatou que uma parcela expressiva de brasileiros adota medidas inadequadas de higiene na cozinha.
Foram entrevistadas 5 mil pessoas de todos os estados e, destes, 46,3% disseram ter o hábito de lavar carnes na pia da cozinha, 24,1% costumam consumir carnes malcozidas e 17,4% consomem ovos crus ou malcozidos em maioneses caseiras e outros pratos.
Essas condições inadequadas facilitam a exposição a doenças transmitidas por alimentos (DTA). Conforme dados do Ministério da Saúde, no Brasil, entre 2000 e 2018, foram registrados, oficialmente, 247.570 casos DTA, com 195 mortes.
Os pesquisadores elaboraram uma cartilha com recomendações e orientações de boas práticas de segurança alimentar.
O coordenador da pesquisa, Uelinton Manoel Pinto, professor da USP e integrante do FoRC, explica que lavar carnes, especialmente a de frango, na pia da cozinha, pode espalhar potenciais patógenos no ambiente, representando uma prática de risco.
Outro risco de exposição é o consumo de alimentos de origem animal malcozidos ou crus. O professor pontua que o recomendado é cozinhar o insumo a uma temperatura mínima de 74ºC.
“Nem todo produto cru de origem animal contém micro-organismos patogênicos, mas existe esse risco, e o cozimento adequado garante que esses micro-organismos sejam eliminados ou reduzidos a níveis seguros”.
Limpeza de vegetais
A pesquisa demonstrou ainda que 31,3% dos entrevistados têm o hábito de fazer a higienização de verduras apenas com água corrente, enquanto 18,8% usam água corrente e vinagre.
Já para a higienização de frutas, 35,7% disseram utilizar apenas água corrente e 22,7% água corrente e detergente.
O percentual de pessoas que usam água com solução clorada, segundo o estudo, é de 37,7% (para verduras) e 28,5% (para frutas). O que é inclusive o recomendado por especialistas para os vegetais que serão consumidos crus.
Os alimentos devem ser lavados com água corrente adicionada de solução clorada por, no mínimo, 10 minutos e, em seguida, realizar um novo enxágue. Contudo, essa desinfecção não precisa ser realizada para os vegetais que serão cozidos ou as frutas que serão consumidas sem a casca.
O estudo ainda apresenta os resultados referentes ao manuseio e armazenamento de alimentos e 81% afirmou que não utiliza sacolas térmicas para transportar alimentos refrigerados ou congelados até as residências ao fazer compras em supermercados.
A nutricionista Jessica Finger, que também participou enquanto pesquisadora, aponta que o ideal é que produtos perecíveis sejam transportados dentro de uma sacola térmica, já que o clima do Brasil é predominantemente tropical.
“Não é recomendado deixar alimentos prontos por mais de duas horas sem refrigeração, visto que a temperatura ambiente favorece o crescimento microbiano nesses alimentos. Essa é uma das principais práticas responsáveis por surtos de doenças de origem alimentar", explica a nutricionista sobre sobras de alimentos.