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G1

Pesquisa da Unicamp indicará ações para fim de aterro em Campinas

Publicado em 17 junho 2013

Por Lana Torres

Uma pesquisa realizada pela Unicamp dentro do aterro sanitário Delta A, em Campinas (SP), analisa a dinâmica de degradação do lixo produzido pelos campineiros e depositado no local. Um dos objetivos do estudo - que é o quarto desse tipo realizado no Brasil - é simular as condições do aterro com o passar do tempo e, com isso, apontar as medidas a serem tomadas pelo poder público no processo de desativação do espaço, que ocorrerá a partir do ano que vem.

Para prever como será o comportamento do lixo nos próximos anos, os pesquisadores criaram uma “célula” que simula o aterro em proporções reduzidas. Ela funciona como um miniaterro já desativado dentro do Delta A. São 9,4 mil toneladas de lixo que estão aterrados no local e são monitorados semanalmente com relação à estabilidade do solo, permeabilidade, produção de chorume e emissão de gases.

O grupo, orientado pela professora Miriam Gonçalves Miguel, da Faculdade de Engenharia Civil, criou a célula de lixo em junho do ano passado, quando os caminhões da coleta de urna empresa da cidade descarregaram todo o material dentro da cavidade construída pelos pesquisadores nos mesmos moldes do aterro.

A célula foi criada em formato de piscina no terreno do Delta e foi construída com uma camada de solo, forrada com uma membrana impermeabilizante de plástico e forrada com pedras. Esta estrutura recebeu os resíduos produzidos pela população durante 20 dias e, em seguida, foi coberta com solo. Ela será analisada pelo menos até o final de 2013.

"A célula experimental foi feita de acordo com os critérios construtivos de norma e dentro dos procedimentos do Delta. A gente não quis fugir disso porque queríamos parâmetros realísticos do aterro", explica a professora.

Delta pode virar parque municipal

A partir dos dados coletados na célula neste período, o grupo vai indicar formas de cuidar do local desativado a partir de parâmetros construídos de acordo com as características locais do lixo. "O estudo vai ajudar no gerenciamento do aterro após o encerramento. E este gerenciamento inclui o tratamento de chorume, o monitoramento geotécnico e a possibilidade de reutilização da área", explica o doutorando Julio Cesar Benatti, que participa do projeto.

Os pesquisadores explicam que atualmente as normas para este tipo de procedimento são baseadas em padrões de outros países. "Na América do Norte, geralmente, depois de 40 anos do aterro fechado ele está pronto para ser utilizado. Talvez no Brasil, que é um país tropical, esse tempo possa ser menor, mas nós não temos estudos ainda que comprovem isso", conta o também pesquisador do grupo Jorge Paixão.

O secretário municipal de Serviços Públicos, Ernesto Paulella, afirma que a administração pretende usar os dados da Unicamp no projeto que será apresentado à Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) para a desativação do Delta A.

"Estamos iniciando o projeto de encerramento, que pode levar até 50 anos para ser concluído. Nesse período, temos que continuar monitorando a área porque ela continua a gerar gases e chorume. Nesse sentido, os dados do estudo nos serão de grande valia”, disse. De acordo com o secretário, a área, após estabilizada, deve virar um parque municipal.

Polêmica

O Delta A foi criado em 1992 e, desde então, teve o tempo de uso prolongado por cinco vezes, após atingir o limite da capacidade. No dia 31 de maio, a Cetesb fez 18 exigências, e emitiu uma autorização provisória para o município despejar mais dez metros de altura de lixo no local, o que estenderia a atividade do Delta por mais pelo menos um ano. Especialistas já apontaram o risco de acidente ambiental no local e estes riscos também são alvo da pesquisa realizada pela Unicamp.

A orientadora do projeto explica que o grupo também monitora a estabilidade e os deslocamentos verticais e horizontais do lixo no Delta. Quando a coleta de dados for concluída, será possível, por exemplo, apontar quais são os riscos reais de se autorizar o alteamento de um aterro como foi feito com o Delta no fim do mês passado.

"Nós queremos contribuir com o poder público a partir do que conseguirmos. Queremos chegar para a Cetesb daqui uns anos e dizer: olha, realmente, com este tipo de resíduos, é possível altear o aterro em cinco metros. Ou o contrário: Não, não é seguro fazer isso. Nossa obrigação como pesquisadores é dispor destes dados para auxiliar", disse Miriam.

A pesquisa é realizada na Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp e foi realizada com o apoio de mão de obra operária da Prefeitura e financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).