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Pesquisa da Unicamp busca em espécies brasileiras característica que tornou dinossauros gigantes (25 notícias)

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Por Dayene Gonçalves*, G1 Campinas e Região

Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desvendou parte do enigma em torno dos tamanhos colossais dos dinossauros, que dominaram o planeta Terra até o fim do período Cretáceo, há 65 milhões de anos.

Segundo o pesquisador do Instituto de Geociências na Unicamp Tito Aureliano, uma característica nos ossos destes animais foi decisiva não só para que se tornassem gigantes, mas por garantir mais agilidade e adaptabilidade ao clima: os sacos aéreos.

"Como é que pode um bicho de 30 metros conseguir ficar em pé? Descobrimos, então, que esses animais gigantescos, ao invés de serem cheios de gordura e músculos, possuíam sacos aéreos, como os das aves, dando sustentação para o corpo e diminuindo a densidade, permitindo o aumento do tamanho", conta o pesquisador.

A pesquisa, desenvolvida por Tito Aureliano para o doutorado na Unicamp, buscou sinais da presença desses sacos aéreos (mais conhecidos como "ossos de passarinhos") espalhados entre os fósseis. Esses espaços ocos entre os ossos são os mesmos que permitem o voo de parte das aves.

As evidências, coletadas a partir de fósseis de três espécies de dinossauros brasileiros que estão entre os mais antigos do mundo, com cerca de 233 milhões de idade, apontam que os dinossauros evoluíram ao menos três vezes de forma independente do ancestral comum até possuírem esses ossos ocos que permitiram o gigantismo e também o voo, no caso dos pterodactylus.

Estes sacos aéreos já tinham sido encontrados em espécies de dinossauros mais desenvolvidos, como o tiranossauro e o velociraptor. O novo objetivo era saber se os descendentes já haviam nascido com tal característica ou não.

"A presença dos sacos aéreos nos dinossauros resulta num input de oxigênio absurdo no sangue, para sair correndo, pulando, caçando, fugindo e dificultando o super aquecimento, o que favoreceu muito a adequação deles ao clima da terra na época", explica o pesquisador.

A pesquisa

Três espécies brasileiras do Período Triássico Tardio foram analisadas, por meio de tomografia computadorizada, para que fosse avaliada a disposição interna dos fósseis. Segundo o pesquisador, os ossos não apresentavam a estrutura necessária para abrigar os sacos aéreos.

Os fósseis estudados nesta pesquisa foram encontrados perto de Santa Maria (RS), entre 2011 e 2019, por pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e são os mais antigos já descobertos na América Latina.

"Concluímos que surgiu em algum momento depois desses fósseis e antes da viradinha para entrar no período Jurássico. Então fica um intervalo de tempo bem restrito para escavarmos e encontrarmos um bicho que apresente características das aves", finaliza Aureliano

"Agora nós temos a evidência sólida que sugere que os sacos aéreos evoluíram pelo menos três vezes independentemente de ancestrais em comum do grupo Avemetatarsalia, nos pterossauros, nos terópodes e nos sauropodomorfos", afirma o pesquisador.

Os dinossauros que tiveram os fósseis analisados foram o Buriolestes schultzi e Pampadromaeus barberenai, que fazem parte do grupo dos sauropodomorfos, que mais tarde abrigaria os dinossauros pescoçudos e também o Gnathovorax cabreirai, um herrerasaurídeo, extinto pouco depois do período em que viveu.

A pesquisa teve o apoio da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e publicada na revista Scientific Reports.