Um diagnóstico da incidência de violência contra crianças e adolescentes em Araraquara vai auxiliar na criação de uma rede de atenção com informações nas áreas da Assistência Social, Educação e Saúde, para viabilizar o direcionamento de políticas públicas na cidade. Realizada a partir da análise de boletins de ocorrência (BOs) da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) e boletins de atendimento (BAs) do Comcriar, a pesquisa é financiada pela Fapesp e desenvolvida pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em parceria com Prefeitura Municipal, Conselho Tutelar e Comcriar. A professora Maria Teresa Miceli Kerbauy, que coordena a pesquisa, explicou que o estudo leva em consideração os 18 bairros onde houve, entre 1999 e 2001, mais de dez ocorrências na DDM e no Comcriar. A lista é liderada pelos bairros Jardim Del Rey, Vila Biagioni e Parque São Paulo, levando-se em conta a proporção entre número de ocorrências e de habitantes por bairro.
Ela explicou que a proposta é reunir informações das 21 instituições que atendem crianças e adolescentes na cidade, como a freqüência com os atendidos passam pelos serviços assistenciais, e cruzar estes dados com informações das secretarias da Saúde e da Educação. "Esta rede de. informações não existe na cidade e toda discussão hoje na área de gestão de política social gira em torno do trabalho em rede. Os setores da Saúde, Educação e Assistência Social não podem tomar decisões diferentes para uma mesma clientela, que tem os mesmos interesses, pois isto gera desperdício de recursos públicos", avaliou a professora.
Extensão
De acordo com Maria Teresa, o estudo faz parte da estratégia da Fapesp de aproximação entre universidade e comunidade e utiliza metodologia inovadora, pois digitalizou e localizou os eventos na malha urbana de Araraquara, fazendo o levantamento da quantidade e tipos de ocorrências mais comuns dentro de cada bairro. "A partir do diagnóstico, vamos propor as políticas públicas específicas que podem ser implantadas em cada área da cidade. Se em determinado bairro ocorre muita violência contra crianças, o poder público saberá que deve investir em creches naquele local. A Fapesp quer que a universidade cumpra o seu papel, que é o de ajudar a criar melhores condições para o exercício do governo local", disse.
O estudo, que deverá ter o primeiro relatório apresentado em janeiro, está na fase de levantamento do perfil das vítimas de violência, como caracterização de idade, escolaridade, sexo, profissão e outros dados. Uma outra etapa do trabalho será a publicação de uma cartilha sobre o tema, que será distribuída na cidade.
De acordo com as conclusões já obtidas no estudo, os casos mais comuns de violência na cidade contra crianças e adolescentes são de conflitos familiares, seguido de conflitos psicológicos/saúde e sexuais, conflitos jurídicos e drogadição. Entre 1999 e 2001, foram registrados 98 BOs na DDM envolvendo crianças (0 a 12 anos) e 174 envolvendo adolescentes (13 a 18 anos). No mesmo período, foram registrados 343 BAs no Concriar para crianças (0 a 12 anos), 160 para adolescentes (13 a 18 anos) e 6 onde não consta a idade do atendido. Nos três anos de pesquisa, a DDM registrou ao todo 272 BOs, sendo 69 em 1999, 81 em 2000 e 122 ocorrências em 2001. Ao todo, foram elaborados 509 BAs no Comcriar, sendo 174 em 1999, 166 em 2000 e 169 em 2001.
Notícia
O Imparcial (Presidente Prudente, SP)