Pesquisa da Unesp de Rio Claro indica que a reposição de águas do Aquífero Guarani está abaixo do necessário para manter os níveis do reservatório que atende 90 milhões de pessoas.
Uma pesquisa conduzida pelo Instituto de Geociências da Universidade Estadual Paulista (Unesp) de Rio Claro revelou que a reposição de águas do Aquífero Guarani está abaixo do necessário para garantir a manutenção da quantidade disponível no reservatório.
O Aquífero Guarani se estende por áreas do Sul e Sudeste do Brasil, além de Paraguai, Uruguai e Argentina, atendendo 90 milhões de pessoas e sendo responsável pela manutenção do nível de rios e lagos em algumas áreas do interior paulista durante o período de seca.
O pesquisador Didier Gastmans, do Centro de Estudos Ambientais da Unesp Rio Claro, explicou que a pesquisa buscou entender a importância da chuva na entrada de águas novas no aquífero, nas áreas de afloramento.
Os estudos apontam que os efeitos de superexploração do reservatório são constantes, contínuos e têm piorado com a mudança de distribuição das chuvas na área de afloramento.
O problema causa preocupação em áreas de grande produção agrícola e população, como Ribeirão Preto, no norte paulista, onde os primeiros efeitos são sentidos desde a década de 1990.
Gastmans afirmou que o número de poços tem aumentado significativamente, começando a dar sinais em diversas regiões do interior.
Os indícios de superexploração estão claros no monitoramento dos poços e do nível dos reservatórios.
Os poços próximos das regiões de afloramento têm níveis de dois a três metros mais baixos, em média. Já os grandes poços de exploração para indústria e agronegócio apresentam um rebaixamento que atinge médias de 60 a 70 metros em dez anos.
O rebaixamento dos níveis chega, em determinados pontos, a até 100 metros, considerável até para as dimensões do Aquífero, que tem níveis com 450 metros de espessura do reservatório, chegando a até 1 quilômetro de profundidade.
CONTINUE LENDO APÓS A PUBLICIDADE
A maior parte do consumo do Guarani é para o abastecimento urbano, e ao menos 80% dela se concentram no estado de São Paulo.
Um dos fatores preocupantes no curto prazo é a concentração das chuvas nas regiões de superfície, o que resulta em menor infiltração para o subsolo e maior escoamento. Além disso, o aumento da média de temperatura nas regiões tem causado maior evaporação nas áreas de superfície.
Gastmans criticou a falta de ações claras por parte dos órgãos públicos e sugeriu medidas como a implementação de um sistema de monitoramento em tempo quase real, o uso integrado de água subterrânea e superficial, e o planejamento futuro considerando os impactos do desenvolvimento.
A Agência de Águas do Estado de São Paulo (SP Águas) informou que monitora todos os estudos relacionados à recarga do Aquífero Guarani e dos demais corpos d'água do estado.
Segundo o órgão, a gestão do aquífero é realizada de maneira integrada com outros recursos hídricos, visando garantir o equilíbrio entre as demandas de uso e a preservação ambiental.
A pesquisa da Unesp utilizou técnicas avançadas, como o monitoramento de isótopos estáveis de hidrogênio e oxigênio e a datação com isótopos dos gases criptônio e hélio, para identificar a origem e idade das águas que compõem o reservatório.
Os resultados mostraram idades variando de 2.600 anos em Pederneiras até 720 mil anos no Paraná, evidenciando a complexidade e a importância da preservação deste recurso hídrico vital.