Um estudo pioneiro desenvolvido pelo professor da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) Roberto Storte Matheus comprova que o tumor metastástico é biologicamente diferente do primário. Pesquisas realizadas com 33 pacientes com câncer de pulmão mostraram que as células da doença sofrem mutações que as deixam mais agressivas ao se espalharem por outros órgãos do corpo. A descoberta deve contribuir para tornar mais eficientes os mecanismos de controle de tumores malignos.
"Com este trabalho, conseguimos comprovar que o tratamento dos tumores que se espalharam pelo corpo, por meio da corrente sanguínea, pode não ser o mesmo que o aplicado no tumor primário. O tumor metastático, ou seja, aquele que se espalhou para outros órgãos, tende a ser mais agressivo e, por isso, pode não responder ao mesmo tratamento aplicado ao primário", explica Matheus, que passou os últimos 10 anos realizando a pesquisa, financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (Fapesp).
O estudo do professor da UMC faz uma alerta aos médicos oncologistas, na medida em que acusa a possibilidade de que o mesmo tratamento (radioterapia ou quimioterapia, por exemplo) que curou o tumor primário pode não exercer nenhum resultado positivo na eliminação do câncer metastático. "Meu trabalho comprova que o tumor maligno metastático é biologicamente diferente do tumor primário, mas nunca é de menor agressividade: ou é de igual ou pior agressividade", relata Storte.
Os 33 doentes investigados por Storte faziam parte dos 80% dos pacientes com câncer de pulmão que, por terem diagnosticado a doença tarde demais, não puderam ser submetidos a cirurgia para extração do tumor e precisaram enfrentar um tratamento paliativo com quimioterapia, radioterapia e imunoterapia. Historicamente, o processo metastático das células cancerígenas originadas rio pulmão atinge órgãos específicos do corpo, como o cérebro, os ossos, o fígado e as glândulas supra-renais. Por ser desconhecido o mecanismo de mutação genética agora revelado pelo estudo do professor da UMC é que muitos pacientes acabavam tendo pouco tempo de sobrevida 'após o diagnóstico da doença. "É que o mesmo tratamento era aplicado tanto para o tumor primário quanto para o metástico. Às vezes, matava-se o câncer do pulmão, mas o paciente acabava morrendo por causa do tumor que, espalhado pelas vias hematogênicas, havia se instalado no cérebro e, mais agressivo, não respondia ao mesmo tratamento", compara Storte.
O pesquisador da UMC reconhece que o avanço obtido por seu estudo ainda não significa a possibilidade de cura total do câncer de pulmão, considerado um dos mais agressivos da literatura médica. "Mas é o primeiro passo. Dentro de cinco a 10 anos, esta conclusão deverá embasar ou servir de referência para novas pesquisas". Para chegar ao resultado, Storte trabalhou com quatro marcadores, métodos por meio dos quais se consegue mensurar visualmente a proliferação do núcleo das células: Ki-67, AgNOR, índice miótico e "star volume".
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O Diário (Mogi das Cruzes)