Estimativas conservadoras indicam que diariamente são consumidos nove bilhões de canudos plásticos por dia. Por se tratar de um artigo descartável desnecessário (com algumas poucas exceções), diversas cidades no mundo todo baniram ou estudam banir sua utilização em espaços públicos. Em paralelo, alternativas para a destinação correta e reciclagem desses materiais têm sido buscadas.
Uma pesquisa desenvolvida no Departamento de Engenharia de Materiais da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP em parceria com o Departamento de Engenharia de Materiais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) criou um processo para produzir fibras a partir da reciclagem de canudos plásticos que podem tornar o processamento de cerâmicas refratárias utilizadas na indústria siderúrgica mais seguro e eficiente.
O artigo escrito pelo professor da EESC, Rafael Salomão, em coautoria com o professor da UFSCar, Victor Carlos Pandolfelli, intitulado Anti-spalling fibers for refractory castables: A potential application for recycling drinking straws, foi publicado na revista Ceramics International e estabelece os processos de coleta e preparação dos canudos de polipropileno e polietileno de alta densidade e de extrusão e estiramento das fibras, bem como sua transformação em fibras curtas de 3 a 5 mm e sua incorporação em uma formulação de concreto utilizado no revestimento de equipamentos da indústria siderúrgica.
Durante sua utilização, os chamados concretos refratários entram em contato com metal líquido em temperatura que variam entre 1000 e 1700ºC. Após sua moldagem com água e endurecimento, esses materiais precisam passar por uma etapa de secagem e aquecimento inicial. Devido aos riscos de pressurização do vapor de água no interior da estrutura, esse processo geralmente leva vários dias e consume grande quantidade de energia. A adição das fibras produzidas a partir dos canudos reciclados permitiu a formação controlada de canais permeáveis que facilitaram a saída do vapor pressurizado. Como resultado, o processo de instalação dos materiais refratários se tornou mais seguro, mais rápido e com menor consumo de energia.
Imagem obtida por microscopia eletrônica de varredura (MEV) das fibras poliméricas utilizadas em concretos refratários como aditivo anti-explosão: a) fibras de polipropileno convencionais feitas a partir de material não-reciclado; b) fibras obtidas a partir de polipropileno reciclado de canudos plásticos. As marcações no interior da imagem representam as medidas dos diâmetros das fibras (em mícrons).
As mesmas fibras também podem ser adicionadas em formulações de concretos para construção civil, pois esses materiais também estão sujeitos a explosões em casos de incêndio por conterem grande quantidade de água quimicamente ligada ao cimento e em seus poros. Da mesma forma, as fibras produzidas podem minimizar esses riscos.
Dado o grande volume de produção desses dois tipos de concreto, os pesquisadores estimaram que toda a produção anual de canudos pode ser reciclada nessa aplicação e ainda haveria a possibilidade de se utilizar outros tipos de materiais poliméricos reciclados, como por exemplo, filmes de embalagens.
O projeto contou com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), além do apoio institucional de parceiros industriais (Almatis, Elfusa do Brasil e Imerys).
Mais informações:
Departamento de Engenharia de Materiais da EESC
Tel.: (16) 3373-9576
Por Assessoria de Comunicação da EESC
Imagens: Rafael Salomão/Victor Pandolfelli