Uma pesquisa recente evidencia os impactos da poluição atmosférica na saúde cardiovascular dos residentes de São Paulo. Conduzido por especialistas da Universidade de São Paulo (USP) com o suporte da FAPESP, o estudo, publicado na revista Environmental Research, destaca uma correlação direta entre a exposição prolongada à poluição e o aumento dos riscos cardíacos, especialmente para aqueles que sofrem de hipertensão.
Analisando autópsias de 238 indivíduos e dados epidemiológicos, os pesquisadores identificaram uma associação entre a presença de carbono negro nos pulmões e a fibrose cardíaca, um indicador de doenças do coração. Entrevistas com familiares das vítimas também contribuíram para entender fatores de risco, como histórico de tabagismo e hipertensão.
Os resultados revelaram que a exposição prolongada à poluição está diretamente ligada ao aumento da probabilidade de desenvolver fibrose cardíaca, sendo esse risco ampliado para aqueles com hipertensão.
“Esse dado ressalta o papel crucial da autópsia na investigação dos efeitos do ambiente urbano e dos hábitos pessoais na determinação de doenças”, afirma um dos autores da pesquisa, o patologista e professor da USP Paulo Saldiva, em entrevista a Emilio Sant’Anna.
Aumento Tanto fumantes quanto não fumantes apresentaram aumento do marcador de doenças cardíacas em decorrência da exposição à poluição. Entre os não hipertensos, os tabagistas foram os mais afetados.
Considerando que a hipertensão é uma condição muitas vezes assintomática, os dados apontam para uma preocupação crescente, especialmente considerando o aumento na taxa de mortalidade relacionada à doença. Embora a poluição nem sempre seja visível, sua influência na saúde é significativa. A exposição varia dentro da cidade, dependendo dos hábitos e locomoção das pessoas.
“Podemos dizer que existem dois indicadores de poluição, um medido pela rede da Cetesb [Companhia Ambiental do Estado de São Paulo], que é objetivo. E outro relacionado a quanto cada indivíduo é exposto a ela”, afirma. “Ou seja, o nível de concentração de poluição ambiental não significa a mesma dose recebida por todos. Se você está em um corredor de tráfego por horas, recebe uma dose maior porque a concentração daquele ambiente é particularmente mais elevada.”
Fibrose cardíaca Saldiva explica que diversos fatores, como a própria hipertensão, influenciam no desenvolvimento da fibrose cardíaca e que, agora, fica provado que a poluição é um deles. “A pergunta era ‘a poluição tem tamanho suficiente para aparecer nessa foto?’ Ela tem e foi a primeira vez que foi demonstrado no mundo em humanos. Essa é a diferença do trabalho”, pontua.
Segundo o médico, o estudo só foi possível graças ao trabalho realizado pelo Serviço de Verificação de Óbito (SVO) na cidade, 24 horas por dia, 365 dias por ano. Ele afirma que o apoio da Faculdade de Medicina da USP e da FAPESP, em convênios estabelecidos no passado com o SVO, construiu um vasto conjunto de processos e informações que resultam hoje em novas possibilidades científicas.
A pesquisa da USP fornece evidências sobre os impactos da poluição do ar na saúde cardiovascular e destaca a necessidade de medidas eficazes para reduzir a exposição da população a esse mal. A implementação de medidas como a redução das emissões de veículos, o incentivo ao transporte público sustentável na cidade e o incentivo de fontes de energia limpa são estratégias eficazes na mitigação dos impactos da poluição atmosférica na saúde pública.
*Este conteúdo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), na Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU). ODS 03 – Saúde e Bem-Estar