“Não é possível fazer pesquisa aplicada sem o conhecimento básico”, declarou Carlos de Brito Cruz, diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, a Fapesp, na abertura do evento “Do Básico ao Aplicado: apoio da Fapesp na Pesquisa em Citricultura”, na manhã desta 5a feira (03), na sede da Fundação, em S. Paulo. Segundo ele, ao se apoiar apenas a pesquisa aplicada em detrimento da básica, pode-se comprometer o estoque global de alimentos.
Com essa fala, Brito Cruz introduziu uma apresentação do Centro de Citricultura Sylvio Moreira (CCSM) do Instituto Agronômico, que há 88 anos tem-se dedicado ao desenvolvimento do conhecimento básico e aplicado na citricultura brasileira, setor em que o Brasil é líder mundial e faz do Estado de São Paulo o maior produtor e exportador mundial de citros.
No evento, representantes dos setores de “frutas de mesa”, produção de mudas, indústria de sucos, outras indústrias e de uma startup defenderam a importância do investimento, público e privado, nas pesquisas em citricultura.
Geraldo Killer, da Associação Brasileira de Citros de Mesa, destino de 25% das frutas que saem de nossos pomares – em quantidade não em receita, que é maior – afirmou que o setor que representa tem necessidades tanto emergenciais quanto de longo prazo e que o Centro de Citricultura do IAC desempenha importante papel para atendê-las.
“Se a dona de casa encontra uma maior variedade de frutas o ano todo no supermercado, isso se deve à nossa pesquisa”, afirmou Killer.
Alexandre Costa, executivo da empresa suíça de aromas de fragrâncias Givaudan, que detém parceria com o CCSM desde 2010. “O Centro de Citricultura é o único local onde temos variedades e podemos ir ao campo coletar as frutas, além de obter informações técnicas”, destacou justificando o investimento no centro oficial de pesquisas em citros.
Para Christiano Cesar Graf, da Vivecitrus – Organização Paulista de Viveiros de Mudas Cítricas e da Citrograf Mudas, as pesquisas lideradas pelo CCSM fizeram com que o sistema de produção de mudas sadias se aprimorasse.
Preparação para atender ao mercado
Segundo Eduardo Lopes, da Citrosuco, uma das maiores indústrias de suco de laranja do mundo, o “papel do CCSM foi fundamental para construirmos um modelo de produção que é sucesso mundial”. “As exigências do mercado mudam todo dia e tempos que estar preparados. Para isso, o conhecimento produzido pelo Centro de Citricultura é importante”, disse.
O investimento em pesquisa básica impulsiona também o empreendedorismo. Simone Picchi, beneficiada pelo Programa Fapesp Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE) desenvolveu uma pesquisa sobre o efeito da molécula antioxidante NAC (N-actetil-cisteína) no controle de doenças em plantas, como o cancro cítrico, a Clorose Variegada dos Citros (CVC) e o HLG (greening).
Com os resultado promissores das pesquisas, desenvolvidas no CCSM, Simone desenvolveu dois produtos à base da molécula – um aplicado via pulverização e outro na forma de fertilizante via raiz – patenteou-os, com apoio do centro de pesquisa, e criou sua empresa, a Cia Camp. Na fase de testes em pomares de produtores, a startup de Simone vai ingressar, em dezembro, na fase 2 do PIPE, para evoluir nos testes, visando ao lançamento comercial dos produtos.