O desmatamento na Floresta Amazônica está quase sempre associado ao desenvolvimento local e, para a comunidade internacional, trata-se de um problema causado por questões nacionais, como a ocupação do solo para fins diversos.
``Mas a Amazônia também se encontra na fronteira agrícola e parte da responsabilidade pelo desmatamento pode ser atribuída à crescente demanda da comunidade internacional por recursos naturais``, disse Joaquim José Martins Guilhoto, professor titular da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP), à Agência FAPESP.
O pesquisador decidiu entender e mensurar o desmatamento devido à demanda global por produtos agrícolas brasileiros. O estudo se tornou tema de uma proposta aprovada em chamada realizada pela FAPESP em conjunto com o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, cujo resultado foi divulgado em dezembro.
O projeto será conduzido por Guilhoto e por Karen Polenske, professora do Departamento de Planejamento e Estudos Urbanos do MIT, economista especializada em recursos naturais e energéticos, sobretudo dos Estados Unidos e da China.
Demanda quantificada
Os estudos de Karen sobre ocupação do solo tiveram início em áreas urbanas na década de 1990. ``Estudamos como se dão as relações de produção, demanda de energia e uso de recursos naturais em países como os Estados Unidos e a China, que são grandes consumidores``, disse.
O grupo do MIT terá como missão fornecer um panorama do mercado internacional de recursos naturais, principalmente dos países que exercem pressão sobre recursos presentes na região amazônica.
``Pretendemos observar as mudanças da ocupação do solo em regiões rurais da Amazônia e, junto com estudantes de pós-doutorado do projeto, analisar as consequências energéticas, econômicas e ambientais desse processo``, disse Karen.
Segundo Guilhoto, com a troca de informação e conhecimento entre os pesquisadores brasileiros e norte-americanos, a pesquisa poderá quantificar o potencial de demanda global por produtos agrícolas e minerais na região que compreende nove Estados: Acre, Amapá, Rondônia, Roraima, Amazonas, Pará, Maranhão, Mato Grosso e Tocantins.
Apenas no Pará o grupo incluirá na conta o minério de ferro. O estado, um dos grandes responsáveis pelo desmatamento na Amazônia Legal, exporta uma quantidade expressiva de ferro e outros minérios.
Tanto Guilhoto quanto Karen veem na parceria entre os pesquisadores da USP e do MIT, permitida pelo projeto aprovado na chamada, uma excelente oportunidade para o avanço do conhecimento na área.
``Até há alguns anos, a maior parte de nossas pesquisas estava direcionada apenas para a China, grande consumidor de combustível fóssil, principalmente carvão. Com o apoio de diversas fontes, estamos conseguindo atuar mais no Brasil, que também é um grande consumidor de energia, mas focado em fontes renováveis``, disse a economista.
Autor: Agência Fapesp