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Pesquisa avalia impacto da ocupação de cidades no estuário do Amazonas no clima

Publicado em 03 novembro 2014

Na última década, cerca de 90% das cidades do estuário do Rio Amazonas passaram a receber grande quantidade de migrantes provenientes de comunidades ribeirinhas próximas. O processo intenso e desordenado de ocupação vem afetando esses centros que contam, em geral, com menos de 20 mil habitantes e têm precária infraestrutura, baixa oferta de serviços e de emprego.

Pesquisadores de instituições brasileiras e norte-americanas desenvolvem trabalho com o objetivo de investigar como ocorrem os fluxos de migração na região e quais são os impactos socioeconômicos e ambientais.

As pesquisas estão sendo financiadas pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) como parte do convênio com o Belmont Forum, grupo multinacional de instituições de fomento à pesquisa sobre mudanças globais.

Alguns resultados já estão sendo trabalhados pelos pesquisadores Sandra Maria Fonseca da Costa, da Universidade do Vale do Paraíba (Univap), e Eduardo Brondizio, da Indiana University, nos Estados Unidos.

"Notamos que, dentro da rede urbana da Amazônia, essas cidades têm importância fundamental. Elas funcionam como salvaguardas para a população ribeirinha, pois, apesar das deficiências, possuem escolas de ensino fundamental e médio, postos de saúde e são contempladas por benefícios sociais governamentais", diz Sandra em reportagem da Agência Fapesp.

De acordo com a pesquisadora, o fluxo de migração é predominantemente regional  e mobiliza habitantes em um raio de até 100 quilômetros de distância. São pessoas provenientes de comunidades ainda menores e mais carentes de serviços básicos.

"Ao chegar a essas cidades, constroem casas em qualquer lugar e em condições degradantes. Ocupam áreas de várzea, lançam os efluentes domésticos, sem qualquer tratamento, em rios e córregos, nos mesmos locais em que a população busca água para beber, cozinhar e lavar roupa. Essas pequenas cidades crescem a uma velocidade absurda e todos os problemas associados a esse fenômeno se multiplicam dia após dia sem qualquer política pública específica", afirma Sandra.

Embora a pesquisadora reconheça ser impossível para o poder público controlar o crescimento de uma cidade, ela defende que o processo seja ao menos monitorado e norteado. "É preciso interferir para melhorar a qualidade de vida da população e observamos que isso não tem ocorrido."

Na opinião de Sandra, ao discutir a temática das mudanças climáticas globais é fundamental levar em conta a questão da urbanização, que é extremamente problemática. "A maioria das pesquisas sobre a Amazônia é focada em entender a floresta e as emissões de gases estufa. A questão urbana fica em segundo plano, o que é uma falha fundamental, pois compromete a qualidade de vida da população e traz impactos para o ecossistema", disse.