A privação de cuidados maternos nos primeiros dias de vida aumenta as chances de a prole apresentar problemas de comportamento que remetem a transtornos psiquiátricos na vida adulta. A conclusão resulta de experimentos com ratos, realizados na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp),
que permitiram entender mecanismos neurais e hormonais envolvidos no desenvolvimento de comportamentos relevantes para o estudo da ansiedade e depressão, abrindo caminho para novos tratamentos. O projeto teve apoio da FAPESP.
“Estabelecemos um modelo animal para estudar os efeitos da negligência materna na saúde mental”, explica a biomédica Deborah Suchecki, professora do Departamento de Psicobiologia da Unifesp e coordenadora do estudo. “Com um bom método de análise, é possível investigar de forma mais profunda alterações estruturais e funcionais que ocorrem no organismo de ratos afastados de suas mães por algumas horas.”
Foram analisados animais compulsoriamente separados das mães durante 24 horas seguidas, quando tinham apenas três dias de vida. Tempos depois, já na idade adulta, os roedores apresentaram perda de prazer em realizar atividades agradáveis – um dos principais indicativos de depressão. “Consumir sacarose é algo que dá muito prazer aos ratos. Consideramos ‘depressivos’ aqueles que se mostram desmotivados a comer açúcar”, conta a pesquisadora.
Os filhotes impactados pela ausência da mãe também se tornaram adultos “ansiosos”. Nesse caso, os sinais observados foram dificuldade para agir em ambientes novos, levando-os a um estado de alerta constante.
“Os ‘ansiosos’ preferiam ficar em lugares fechados, evitando se expor”, diz Suchecki. No período em que ficou sem a mãe, o filhote de rato não mamou nem recebeu lambidas na região genital, ato que representa uma forma de carinho materno. De acordo com Suchecki, isso é suficiente para que a glândula adrenal, situada sobre os rins, libere grandes quantidades de hormônio corticosterona, correspondente em roedores ao cortisol humano, associado ao estresse.