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O Diário (Mogi das Cruzes)

Pesquisa avalia cotidiano do idoso (1 notícias)

Publicado em 26 de junho de 2004

Uma ampla pesquisa será realizada pela Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), a partir do segundo semestre deste ano, para estudar o cotidiano dos idosos em Mogi das Cruzes. O projeto do Núcleo de Ciências Sociais Aplicadas (NCSA) obteve financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) O objetivo é mapear as atividades sociais, culturais, esportivas e de lazer de quem está com 70 anos ou mais e resida no município há pelo menos duas décadas. Os resultados poderão ser utilizados por setores da administração pública para basear projetos que melhorem o bem-estar das pessoas que chegaram a esta idade. "Acho que essa pesquisa é fundamental numa sociedade que envelhece, uma realidade da qual ninguém pode fugir. É exatamente essa nova realidade que vamos rastrear. Queremos transformar o projeto, além das grandes descobertas que certamente virão, num instrumento de fortalecimento dos setores utilizados pelos idosos", diz o gestor do NCSA, professor José Sebastião Witter. Ao lado do projeto dos idosos, o Núcleo desenvolve também um estudo voltado para o fortalecimento das parcerias escola/sociedade civil (leia matéria nesta página). O estudo da UMC terá uma característica muito peculiar, posto que enfocará os contornos históricos e antropológicos de duas culturas distintas: a japonesa e a brasileira. "A presença de idosos de origem nipônica em Mogi é muito acentuada. Esta pesquisa permitirá saber quais foram as contribuições de cada um dos povos para a atual formação cultural, social e econômica da Cidade", diz a pesquisadora Anita Liberalesso Neri, professora titular da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), especialista em bem-estar psicológico que participará do projeto. "Estudaremos um conjunto muito grande de variáveis", comenta a gestora acadêmica de Psicologia da UMC, Geraldina Porto Witter, coordenadora geral da pesquisa. Memória de leitores, religiosidade, lazer, atividade física, produção científica e rotina e mudança são os aspectos que serão mapeados num grupo de 80 idosos que estão com 70 anos ou mais. Metade deles é de origem japonesa enquanto os outros 50% descendem de ocidentais. "Queremos saber se os representantes de uma cultura envelhecem com mais qualidade de vida que os de outra". No item 'memória de leitores', serão monitorados os hábitos de leitura dos idosos, pretendendo-se resgatar as influências durante o processo de formação intelectual. "Como aprenderam a ler, quem os ensinou a ler e quais os autores preferidos serão algumas das questões com que trabalharemos", detalha Geraldina. No quesito 'atividade física', os pesquisadores identificarão quais são os hábitos esportivos de quem chegou aos 70 anos, quanto tempo se exercita semanalmente e a intensidade dos exercícios. No aspecto 'atividade de lazer', pretende-se levantar quais são as alternativas de diversão utilizadas pelos idosos e quanto tempo é dedicado a este tipo de atividade. O NCSA da UMC também pretende descobrir se há relação entre a religiosidade e a saúde em idosos, ao mesmo tempo em que pesquisará como ocorreu o desenvolvimento religioso de quem hoje já chegou aos 70 anos: quem o doutrinou na religião que segue, quais os motivos que fazem com que ainda continue religioso e quais são seus modelos de religiosidade, por exemplo. Um outro aspecto será identificar como os idosos estão adaptando suas rotinas ao avanço da modernidade. "Os recursos e equipamentos eletrônicos estão cada vez mais presentes no cotidiano das pessoas. Queremos saber como aquelas com mais idade estão lidando com os caixas eletrônicos, se usam computadores ou se têm tecnofobia (medo de novas tecnologias)", adianta Geraldina. Ela aponta, ainda, carência de produção científica voltada à classe. "Analisando os trabalhos que têm sido feitos no Brasil e no exterior, vemos que há falta de temas relacionados às pessoas que chegaram à terceira idade. Crianças e adolescentes ainda são os alvos prediletos dos pesquisadores. Por isso, o estudo que vai ser realizado pela UMC e outras instituições parceiras ganha mais importância", finaliza Geraldina. Mais de 20 pesquisadores, entre professores e alunos da UMC e de outras instituições de ensino do Estado, participarão do projeto, que tem um ano para ficar pronto e deve render a publicação de dois livros. "Os resultados poderão ser aplicados no desenvolvimento de políticas públicas para melhorar a qualidade de vida dos idosos, oferecendo espaços de lazer, cultura e esporte às pessoas que chegaram aos 70 anos", explica o professor Orlando Bisacchi Coelho.