As mudanças climáticas aumentaram em pelo menos três vezes as chances de ocorrência das condições favoráveis para incêndios florestais sem precedentes no Canadá e em até 20 vezes na Amazônia Ocidental entre março de 2023 e fevereiro de 2024, elevando as emissões de gases de efeito estufa, causando devastação ambiental e provocando mortes de moradores. Uma pesquisa internacional divulgada concluiu que, apesar da área global queimada ser próxima à média de anos anteriores, as emissões por incêndios no mundo ficaram 16% acima da média, totalizando 8,6 bilhões de toneladas de dióxido de carbono (Gt CO2), a sétima mais alta desde 2003.
O primeiro relatório State of Wildfires, publicado na revista científica Earth System Science Data, analisa incêndios florestais em diversas regiões, identificando eventos extremos e avaliando suas causas, previsibilidade e atribuição às mudanças climáticas e uso da terra. A pesquisa teve a participação de pesquisadores brasileiros e busca fornecer informações práticas para tomadores de decisão e sociedade.
De acordo com a pesquisa, a temporada de incêndios na Amazônia Ocidental foi impulsionada por secas prolongadas ligadas ao El Niño, aliadas às condições meteorológicas. Ações antrópicas, como desmatamento e agricultura, também tiveram influência. O estudo revela que as causas dos incêndios ao redor do mundo foram múltiplas, e eventos extremos também foram registrados em áreas como Venezuela , Bolívia, Peru e Chile.
O relatório aponta que as mudanças climáticas ampliaram o risco de ocorrência de incêndios em várias regiões, como Canadá, Amazônia Ocidental e Grécia. As florestas boreais canadenses contribuíram com nove vezes mais emissões de carbono do que a média, enquanto houve redução nas emissões nas savanas africanas. Modelos climáticos sugerem que a frequência e intensidade dos incêndios florestais extremos aumentarão até o fim do século, especialmente em cenários com altas emissões de gases de efeito estufa.
Para a temporada 2024-25, as previsões indicam uma probabilidade acima da média de incêndios em partes da América do Norte e do Sul, como a Califórnia, cidades canadenses e o Pantanal brasileiro. A pesquisa recebeu apoio da FAPESP por meio de diversos projetos. Como conclusão, o estudo ressalta a importância de compreender as causas dos incêndios passados e presentes para prevenção futura e destaca a necessidade de atualização dos modelos climáticos para lidar com eventos cada vez mais intensos e frequentes.
Informações da Agência FAPESP