Na quarta-feira (30), a USP (Universidade de São Paulo) lançou uma atualização da Demografia Médica no Brasil, pesquisa sobre formação, distribuição e atuação de médicos, com projeções para os próximos anos. Por meio de diferentes métodos, incluindo dados de bases distintas, inquéritos e estudos qualitativos, o levantamento aborda novas características, tendências e cenários da profissão médica no país.
Com o propósito de disponibilizar informações relevantes para formuladores de políticas e gestores públicos, o estudo desenvolvido por um grupo de 22 pesquisadores é resultado de uma cooperação técnica e científica entre USP, AMB (Associação Médica Brasileira), Ministério da Saúde, OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde) e FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
“O objetivo é fornecer uma base empírica compartilhada para o debate sobre os diversos desafios enfrentados pela medicina e pelo sistema de saúde. Queremos produzir e divulgar evidências que possam apoiar a formulação e execução de políticas públicas voltadas ao fortalecimento do SUS (Sistema Único de Saúde)”, explica Mário Scheffer, coordenador do estudo e docente do Departamento de Medicina Preventiva da USP.
PÚBLICO X PRIVADO
A pesquisa mostra que 20% dos cirurgiões trabalham exclusivamente no setor privado, 10% apenas no SUS e 70% atuam nos dois setores. Outro dado revelado é que 8% das cirurgias eletivas na rede pública são canceladas por falta de equipe, principalmente de anestesistas, o que reforça a necessidade de implementar ações para diminuir a concentração de especialistas na rede privada de saúde.
Os resultados devem ser usados pelo Ministério da Saúde para orientar estratégias futuras. A ideia é aproveitar a estrutura ociosa da rede privada. “Para garantir o tempo adequado para o atendimento médico especializado, resolver problemas de diagnóstico e realizar cirurgias, precisamos dar um passo além na parceria com as estruturas privadas onde se concentram os médicos especialistas”, defende o ministro Alexandre Padilha.
ESPECIALISTAS
Em dezembro de 2024, o Brasil contava com 353.287 médicos especialistas, 59,1% do total registrado. Os demais 244.141 (40,9%) eram generalistas, graduados em medicina, mas sem especialização. Entre as 55 especialidades regulamentadas, sete concentram 50,6% dos profissionais: Clínica Médica, Pediatria, Cirurgia Geral, Ginecologia e Obstetrícia, Anestesiologia, Cardiologia e Ortopedia e Traumatologia.
Seguindo uma tendência observada no ensino de Medicina, no qual as mulheres já representam mais de 61,8% do total de estudantes, o número de médicos deve atingir maioria feminina pela primeira vez no país. Neste ano, elas passam a representar 50,9% do total. Apesar disso, apenas 20 das 55 especialidades têm mais mulheres formadas, com destaque para a Dermatologia, onde elas representam 80,6% do total.
DISTRIBUIÇÃO
A pesquisa também revelou que 63,7% dos títulos de especialidades foram obtidos por meio de Residência Médica, enquanto que 36,3% foram concedidos por exames de titulação das sociedades médicas vinculadas à AMB. Entre os médicos especialistas, a maioria (79,1%) possui apenas um título, enquanto que 20,9% acumulam dois ou mais títulos em diferentes especialidades.
A distribuição dos especialistas é bastante desigual no país. Segundo os dados, o percentual de especialistas em relação ao total de médicos varia de 72,2% no Distrito Federal e 67,9% no Rio Grande do Sul a 46,5% em Rondônia e 45,1% no Piauí. A região Sudeste concentra 55,4% de todos os médicos especialistas, seguida pelas regiões Sul (16,7%), Nordeste (14,5%), Centro-Oeste (7,5%) e Norte (5,9%).
Com base nos diversos dados analisados, o levantamento também concluiu que pacientes com plano de saúde são submetidos, proporcionalmente, a mais cirurgias que os atendidos exclusivamente pelo SUS. A pesquisa considerou os três procedimentos mais realizados no Brasil: remoção do apêndice, retirada da vesícula biliar e correções de hérnias da parede abdominal.
Na apendicectomia, a taxa entre beneficiários de planos de saúde é 34,4% superior à verificada no SUS, 100 contra 74,45 por 100 mil habitantes. Na colecistectomia, o setor privado apresenta taxa 58,7% maior: 312,38 contra 196,81 cirurgias por 100 mil habitantes. A maior disparidade, de 86,6%, é registrada nas cirurgias de hérnias da parede abdominal: 401,41 contra 215,07 procedimentos por 100 mil habitantes.