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Pesquisa aponta áreas com maior risco de dengue no estado de São Paulo (1 notícias)

Publicado em 27 de maio de 2016

Por Maristela Garmes

Moradores do estado de São Paulo das regiões de Araçatuba, Ribeirão Preto e São José do Rio Preto devem redobrar a atenção no combate ao mosquito da dengue. Essas cidades têm alta incidência e permanência da doença, segundo tese de doutorado, com apoio da Fapesp e do CNPq, defendida no início deste mês, no departamento de Geografia da Unesp de Presidente Prudente.

Rafael Catão, autor da tese, apresenta um panorama detalhado dos casos de dengue em todo o estado de São Paulo. Segundo ele, diferentemente do que ocorreu com o vetor, a doença se difundiu por saltos, em que a hierarquia urbana associada às características ambientais (temperatura e altitude) orientaram a difusão. “Cidades de porte maior do interior do Estado, e em áreas com temperatura e altitude favorável, receberam a doença antes da sua região de entorno e a espalham na sua rede mais próxima”, explica.

O principal objetivo do trabalho foi o de compreender quais áreas do estado não possuíam casos de dengue, ou que possuíam casos e taxas muito abaixo da média. Para tanto, o pesquisador analisou o movimento da doença, associado com a intensidade de casos, para diagnosticar as áreas mais ou menos favoráveis para a ocorrência da doença.

“Essa compreensão está inserida dentro do movimento que a doença fez dentro do Estado (processo de difusão). Primeiramente ocupou as áreas mais propicias do interior, e depois, foi se espalhando para as menos favoráveis, como as de maior população rural, as mais altas e mais frias”, ressalta.

O mapeamento começou a ser feito em 1990 com base nos registros de casos oriundos dos centros de saúde, por meio de notificação compulsória, e que são consolidados nos municípios e estados. “Toda vez que alguém é diagnosticado com dengue gera uma notificação e um acompanhamento que vai ver se confirmar como dengue ou não”, diz.

“Mapeamos o número de casos por município, desde o primeiro registro, e, posteriormente analisamos a taxa de incidência por cem mil habitantes. Para o Aedes aegypti utilizamos dados municipais da Superintendência de Controle de Endemias (Sucen), desde o primeiro registro em cada município”, conta.

Para os mapas espaço-temporais, o pesquisador usou algumas técnicas mais avançadas, como a coleção de mapas, mapeamento de síntese, análise de superfície de tendência e Krigagem, que possibilitam entender a direção, velocidade e o processo de difusão, mostrando de onde veio, e o caminho que tomou.

“Os mapas sínteses possibilitam, ainda, o cruzamento com mais variáveis, como clima, densidade demográfica, proximidade de rodovias, população urbana, entre outras, e permite visualizar padrões espaciais e possíveis respostas no tocante à intensidade e a difusão”, aponta.

A combinação destes dados, segundo o pesquisador, apresentou o seguinte panorama. No estado, a região oeste – o triângulo entre Araçatuba, Ribeirão Preto e São José do Rio Preto – têm uma alta incidência e permanência da doença, assim como a Região Metropolitana de Campinas e da Baixada Santista. As cidades de Bauru, Marília e Vale do Paraíba, apesar da recente difusão do vírus da dengue, apresenta uma alta incidência. A região metropolitana de São Paulo possui um grande número de casos, contudo, por conta da sua população, não apresenta uma taxa muito alta.

A região que apresenta menos casos é a região sul do estado (entre Botucatu, Itapetininga e o Vale do Ribeira); as áreas mais altas como a de Bragança Paulista, Atibaia, Campos do Jordão; e as da Serra do Mar, nas proximidades do Vale do Paraíba.

“Até 2012, último ano analisado, alguns poucos municípios não possuíam o vetor. A maioria deles na porção sul do estado e na Serra do Mar, em Bocaina. Na porção oeste, temos o município de Torre de Pedra. Muitos municípios com vetor não possuem a doença, devido às condições menos propicias”, ressalta.

Quando o ambiente está tranquilo para o mosquito?

Segundo Rafael Catão, o vetor se encontra em quase todo o estado. Os municípios com menor altitude, com temperaturas mais altas e maior densidade demográfica apresentam mais casos e permanência da doença. “A junção desses fatores é que cria as condições mais favoráveis”.

As principais barreiras do Estado são as climáticas. Áreas com temperaturas mais frias, com maior entrada de frentes frias associadas com menor densidade demográfica e altitudes mais elevadas, restringem a doença, ou limitam a sua intensidade. Essas são barreiras estruturais, que associadas às barreiras conjunturais, formadas pela questão do controle vetorial e do próprio movimento da doença no Estado, modulam a incidência.

Caminho das pedras: o mosquito no estado de SP

Dengue é uma doença reemergente no país e no estado de São Paulo. Existia no começo do século 20 mas desapareceu por conta o combate ao Aedes aegypti no controle da febre amarela urbana. Porém, o mosquito foi reintroduzido no final da década de 1970 e chegou em São Paulo em meados da década de 1980.

Inicialmente o vetor apareceu com focos isolados que permitiam o controle. Depois, surgiu com uma maior abrangência e maior penetração nos municípios. Em 1985, a Sucen fez um inquérito percorrendo os municípios e encontrou nove municípios com ampla disseminação de Aedes na região oeste do estado (Araçatuba, São José do Rio Preto, Barretos, Votuporanga e Presidente Prudente).

Desses municípios, e de outras incursões posteriores, o vetor se expande primeiramente pelo oeste do Estado, ocupando todo o Planalto Ocidental. Após a ocupação do Planalto Ocidental, segue o eixo de maior densidade, as principais rodovias paulistas, como a Bandeirantes, Anhanguera e a Washington Luís. Depois segue em direção à região de Campinas e, posteriormente, à cidade de São Paulo. Ao mesmo tempo, uma segunda grande área de presença do vetor surgiu em Santos, seguindo pelo litoral nas direções norte e sul. Posteriormente, o Vale do Paraíba, áreas ao sul e altas, foram ocupadas.

A doença surge no estado, de maneira autóctone, em 1987, com uma epidemia em Guararapes e Araçatuba, no oeste do Estado. Esse surto foi esporádico, não tendo mais desdobramentos. Em 1990, outra epidemia se inicia em Ribeirão Preto e municípios vizinhos. Ela inaugura a fase em que o vírus da dengue se torna endêmico no Estado.

Faixa endêmica

A doença que surgiu de forma endêmica na porção norte-nordeste (em torno de Ribeirão Preto, Araçatuba e São José do Rio Preto). Essa área aumenta com pulsos a cada pico de epidemia estadual, como as de 1990-1991, 1995-1996, 1998-1999, 2001-2003, 2006-2007 e 2010-2011. A cada pico epidêmico, na escala do Estado, a área afetada ou de atuação esporádica da doença, aumentava. Inicialmente pela região oeste, e posteriormente segue em direção à Campinas e toda a Depressão Periférica, chegando à metrópole paulistana. A partir de Santos, uma segunda grande onda segue pelo litoral. Por fim, a difusão atinge o Vale do Paraíba, a porção sul e áreas altas da Mantiqueira, planaltos elevados na fronteira de Minas.

Fonte: Unesp