WASHINGTON — Um grupo americano de defesa dos consumidores, o Public Citizen, acusou uma pesquisa do governo americano de ser antiética e por causa disso ter provocado a morte de mais de mil crianças negando o acesso do AZT (um remédio que combate à Aids) às suas mães durante a gravidez. Parte das 9 mil grávidas envolvidas no estudo tomaram placebo (substância inócua usada em pesquisas) e muitos dos bebês foram contaminados e morreram.
Os nove estudos feitos na África, Ásia e Caribe, foram monitorados pelo Centro de Controle de Doenças (CDC), em Atlanta, um dos mais importantes dos EUA, e pretendiam verificar a taxa de transmissão do vírus das mães para os bebês. Mas pesquisas anteriores realizadas nos EUA já haviam comprovado que o uso do AZT durante a gravidez reduz a contaminação em dois terços.
"É a Experiência Tuskegee parte dois", afirmou o diretor da Public Citizen, o médico Sidney Wolfe. O médico se referiu a polêmica experiência feita com 400 pacientes afro-americanos do Alabama que foram usados como cobaias para o tratamento de sífilis. Em 1932, o Serviço de Saúde Pública dos EUA reuniu os voluntários e não deu a penicilina para tratar a doença. Muitos foram contaminados e morreram.
Um pesquisador do CDC defendeu a experiência, afirmando que não é possível ou científico dar AZT para todos os pacientes do estudo. "Além disso, o AZT não é acessível economicamente para os países em desenvolvimento", disse o médico Phillip Nierburg. E ressaltou que os países onde a pesquisa foi feita estavam de acordo com o método empregado.
O médico ressaltou a importância de testar novos tratamentos, para comparar os resultados com o tratamento padrão usado em alguns países, como os Estados Unidos. Em alguns países em desenvolvimento o AZT não é usado corriqueiramente.
O Public Citizen contou que vai exigir do governo americano a distribuição de AZT ou outra droga similar para todas as mulheres que participam desse tipo de experiências. "Esse tipo de pesquisa é fatal para muito bebês", afirmou o médico da organização, Peter Lurie.
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Jornal do Brasil