Notícia

O Diário (Mogi das Cruzes)

Pesquisa ajuda produtores de soja

Publicado em 12 dezembro 2003

A Universidade de Mogi das Cruzes (UMC) acaba de divulgar a conclusão do seqüenciamento completo do genoma do vírus da lagarta da soja (Baculovirus anticarsia gemmatalis). Utilizado como bioinseticida, o microorganismo age no controle biológico da principal praga que infesta as plantações do grão no Brasil. Ao decifrar a linguagem genética do baculovirus, os pesquisadores acreditam que, num futuro próximo, possam melhorar a eficiência do agente controlador. "A decifração do código genético do baculovirus nos dá as ferramentas para entendermos melhor como ele age e funciona, o que abre caminho para o monitoramento do microorganismo e possivelmente futuras melhorias genéticas para torná-lo mais efetivo e eficiente no controle da lagarta da soja", explica o professor José Luiz Caldas Wolff, do Núcleo Integrado de Biotecnologia da UMC, que participou da pesquisa, coordenada pelo professor Paolo Zanotto, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP) e financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). O baculovirus é um agente letal para a lagarta da soja. Ele foi isolado no Brasil no final da década de 70. A partir daí, uma equipe da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), chefiada pelo pesquisador Flávio Moscardi, utilizou-o como principal componente de um pesticida natural que logo começou a ser usado em programas de controle biológicos de pragas. Transformado em bioinseticida, o microorganismo passou a ser pulverizado sobre lavouras atacadas pelos insetos maléficos à produção dos grãos, eliminando-os. A lagarta Anticarsia gemmatalis alimenta-se das folhas da soja, impedindo que a planta se desenvolva. "Com isso, a produção dos grãos fica comprometida e os agricultores acabam tendo prejuízo", relaciona Wolff. Atualmente, cerca de dois milhões de hectares da cultura no Brasil já são tratados, por ano, com produtos à base do baculovirus. "Já existe produção em escala industrial desse bioinseticida no País", completa. Wolff relata que o resultado da pesquisa original, que começou a ser aplicado no começo da década de 80, agradou aos agricultores por causa das vantagens inerentes a um controlador de pragas natural. "Os inseticidas químicos causam um desequilíbrio nas plantações, já que matam também os insetos benéficos à cultura". O grande diferencial do biopesticida, explica o professor da UMC, deve-se a uma característica dos baculovirus: a especificidade de hospedeiros. "Cada uma das espécies desses microorganismos infectam um inseto diferente, ou seja, o baculovirus da lagarta da soja não ataca a lagarta-do-cartucho-do-milho". A pesquisa, que decifrou a existência de 135 mil combinações genéticas (nucleotídeos) no baculovirus da lagarta da soja, começou a ser desenvolvida há um ano e meio e contou com a participação de pesquisadores de cinco instituições. Além de UMC, USP e Embrapa, também participaram do projeto a Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade da Flórida.