Causos, músicas e um resgate da história do compositor paulistano Paulo Vanzolini dão o charme na cinebiografia musical Um Homem de Moral, dirigida por Ricardo Dias, nos cinemas desde sexta-feira. O que se vê - e se escuta - nas quase duas horas de filme é o perfil de um homem simples, vestido com roupas comuns, relembrando a juventude e as inspirações que teve para compor sucessos como Ronda e Praça Clóvis.
Confortavelmente sentado em sua cadeira, com singelas roupas de lã, Vanzolini, de 85 anos, passa uma imagem completamente diferente de sua formação profissional. Ele é doutor em zoologia, um dos idealizadores da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e premiado pela fundação Guggenheim, em Nova York, pelas suas contribuições ao progresso da ciência.
Mas, naquele momento, Vanzolini é apenas um sambista, autor de versos como: “De noite eu rondo a cidade / A te procurar sem encontrar / No meio de olhares espio em todos os bares / Você não está”, de Ronda. “Quando escrevi a canção, eu era do exército e patrulhávamos a zona de baixo meretrício. Lá eu imaginei essa história”, diz o autor no documentário.
E assim se desenrola o filme. Vanzolini conta a história de cada música para em seguida cantores como Miúcha, Chico Buarque, Martinho da Vila, Inezita Barroso entre outros, interpretarem suas canções. Tudo isso intercalado com sua história de vida.
Da canção Praça Clóvis, por exemplo, Vanzolini conta que ficava no ponto esperando o lotação e observando os batedores de carteira. Nessa, compôs os versos: “Na praça Clóvis / Minha carteira foi batida / Tinha 25 cruzeiros / E o teu retrato.”
O documentário, filmado pelo também cientista Ricardo Dias, mostra os preparativos do show Acerto de Contas de Paulo Vanzolini, realizado em 2003, no Sesc Vila Mariana, que reuniu diversos músicos, interpretando mais de 50 canções do compositor, em uma inédita revisão de sua obra.