Quatro empresas brasileiras vendem para observatórios astronômicos nos EUA e na Argentina
Gisele Teixeira escreve de Brasília para a 'Gazeta Mercantil':
Emerson Barbosa, de 32 anos, é proprietário de pequena empresa que produz ferramentas diamantadas para usinagem de vidro, em Indaiatuba, interior de SP. Tem apenas 15 funcionários.
Em 2000, ele recebeu uma proposta que o deixou de queixo caído: confeccionar uma lente de 2,3 metros de diâmetro, a quarta maior já feita no mundo.
Se tudo desse certo, seria a primeira de uma série de 24 a serem usadas em telescópios do Observatório Pierre Auger, que está sendo construído em Mendoza, na Argentina. 'Pensei um pouco, e topei', conta.
Hoje, a Schwantz Ferramentas Diamantadas é uma das 4 empresas brasileiras a participar - e ganhar dinheiro - com a construção da maior rede de observação de raios cósmicos do mundo.
As outras são a Equatorial, de São José dos Campos; a Alpina, de SP, e a Baterias Moura, do Recife. O projeto do Observatório Pierre Auger reúne 15 países e prevê gastos de US$ 50 milhões até o próximo ano, quando entra em operação a primeira parte da construção, a unidade argentina.
Uma estrutura similar também será erguida em Utah, nos EUA, para mapear o céu do Hemisfério Norte.
Telescópios 'olhos de mosca'
Segundo o coordenador do projeto Auger no Brasil e professor titular do Depto. de Raios Cósmicos da Universidade de Campinas (Unicamp), Carlos Escobar, o estudo das partículas de raios cósmicos representa um dos maiores desafios da física de alta energia, uma vez que até hoje não se sabe como elas são produzidas.
As partículas de alta energia chegam à Terra com uma freqüência de apenas uma por século, por quilômetro quadrado.
Só que os cientistas têm pressa em encontrar respostas e não se conformam em esperar séculos para colher alguns poucos raios. A saída então foi implementar uma grande área de sensores para capturá-los.
Quando o Observatório Pierre Auger estiver pronto, cobrirá uma área de três mil quilômetros quadrados, o equivalente a quase três vezes o município do RJ, em cada hemisfério.
O físico Ronald Shellard, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), explica que, ao entrarem na atmosfera, estes raios cósmicos colidem com moléculas de ar, a dezenas de quilômetros de altura, gerando um 'chuveiro' com mais de um bilhão de partículas.
Estas partículas é que serão acompanhas pelo Observatório, que utiliza duas técnicas complementares para medir tanto a energia quanto a direção e a composição dos raios: os tanques de Cerenkov e os telescópios 'olhos de mosca'.
A estrutura que envolve os dois observatórios é formada por cinco prédios no formato hexagonal, onde serão instalados um total de 24 telescópios e 1,6 mil tanques.
Os tanques serão produzidos pela Alpina Termoplásticos, do grupo Alpina. O gerente geral da empresa, José Luís Oliveira, afirma que a intenção é fechar o ano com 300 unidades.
Ele não informa o valor do contrato, mas trabalha em estudos do produto desde 1997. Feitos em polietileno importado, os tanques precisam durar 20 anos e resistir a altas temperaturas. 'Certamente é um bom negócio', diz José Luís Oliveira.
A empresa Equatorial, especializada no desenvolvimento e fabricação de sistemas espaciais, é responsável pelo desenvolvimento de um sistema que integra o telescópio, o obturador.
O sistema, com 2,5 metros de diâmetro, abre e fecha automaticamente a lente do telescópio. Além do obturador, a Equatorial foi contratada pelo projeto Auger para fornecer um sistema de suporte de filtros de radiação ultravioleta e de uma lente secundária para o telescópio.
Segundo o presidente da empresa, César Ghizoni, o primeiro contrato foi de R$ 600 mil, apenas para a unidade piloto. Até setembro, outras cinco serão entregues. A expectativa é que a montagem completa dos dois observatórios gerem pelo menos R$ 2,5 milhões.
A Baterias Moura fornecerá baterias para uso estacionário. A empresa não fala em valores, mas o contrato prevê a instalação de duas baterias por tanque.
O gerente comercial para a Área de Montadoras e Exportação da empresa, Manoel Júnior, explica que estão sendo utilizadas as baterias Moura Clean, desenvolvidas inicialmente para o setor de telecomunicações. 'São produtos com excelente desempenho, independente da variação de temperatura', explica.
É um ponto positivo, já que os tanques estão instalados em uma área semi-desértica, ao pé da Cordilheira dos Andes.
(Gazeta Mercantil, 23/7)
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