Cientistas do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio) do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas, São Paulo, desenvolveram uma pele artificial por impressão 3D, que possui características mais próximas às do ser humano.
Tratamento
A estrutura recebeu o nome de Human Skin Equivalent with Hypodermis (HSEH) (equivalente de pele humana com hipoderme), e espera-se que possa ser utilizada para a criação de tratamentos para lesões como feridas e queimaduras e para substituir animais em estudos toxicológicos de medicamentos e cosméticos.
O trabalho foi publicado na revista científica Communications Biology e apresentado durante uma sessão sobre biotecnologia na FAPESP Week Spain, em Madri, capital espanhola. O estudo recebeu financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
Na prática
Para construir a HSEH, os pesquisadores utilizaram células-tronco e primárias cultivadas diretamente de tecido humano. Com isso, conseguiram alcançar uma semelhança maior com a pele natural. Um dos desafios nos modelos 3D disponíveis hoje, que o modelo brasileiro superou, foi a reprodução da hipoderme, camada mais profunda.
“Conseguimos desenvolver um modelo de pele completa, com três camadas: a epiderme, a derme e a hipoderme. Dessa forma, foi possível obter um modelo do órgão com características muito similares às do ser humano. Esse novo modelo de pele 3D com a camada de hipoderme fornece uma plataforma in vitro mais precisa para a modelagem de doenças e estudos toxicológicos”, diz Ana Carolina Migliorini Figueira, pesquisadora do LNBio-CNPEM e coordenadora do projeto.
Ampliação do projeto
Ana Carolina conta que os estudos conduzidos até agora mostram que a hipoderme não pode ser dispensada na hora de reproduzir a pele humana. Isso, porque ela é essencial “para modular a expressão de uma ampla gama de genes vitais para a funcionalidade da pele, como os relacionados à proteção e à regeneração do tecido”, explica.
A partir de agora, o LNBio pretende usar a pele artificial em estudos próprios, mas também confeccionar o material para instituições de pesquisa parceiras. Um dos objetivos é auxiliar no desenvolvimento de enxertos para tratamento de ferimentos e queimaduras.
Há, por exemplo, um projeto em parceria com pesquisadores holandeses em andamento para avaliar novas terapias para pessoas com diabetes. A equipe brasileira vai desenvolver um modelo realista da pele com feridas crônicas associadas à doença, que podem levar a ferimentos de difícil cicatrização, com risco de amputação de membros.
Em contrapartida, o grupo de cientistas europeus, vinculados ao Centro Médico da Universidade Radboud, trabalha no desenvolvimento de novos biomateriais que sirvam como curativos eficazes para tratar as feridas diabéticas.
“Nosso objetivo é, depois de produzido o novo curativo, testá-lo, tanto em modelo animal, como no de pele diabética humana que desenvolveremos”, conta a cientista do LNBio.