John Sulston, Prêmio Nobel de Medicina ou Fisiologia de 2002, proferiu palestras em SP, no dia 24 de junho, e no RJ, no dia 25, e declarou: "Não permitimos a clonagem humana, mas sabemos da importância e permitimos a clonagem terapêutica."
Pioneiro do Projeto Genoma Humano, o britânico sir John Sulston disse, em relação ao uso de embriões nas pesquisas, não haver uma forma de categorizar sua passagem para um ser humano. "Não adianta dizer que é na hora em que o óvulo se funde com o espermatozóide, pois muitos não vão ser fixados no útero. E há os casos dos gêmeos, que não são fruto desta fusão. É importante raciocinar o que se pode fazer para melhorar a vida das pessoas. O que vai trazer o bem e o que trará o mal."
Para ele, a clonagem reprodutiva é um erro, pois não se pode sequer garantir a perfeição do embrião: "Podem nascer inúmeros bebês com problemas."
Sobre o projeto de Lei de Biossegurança que tramita no Senado brasileiro, o pesquisador vê semelhanças com os EUA. Acha que as bancadas cristãs conservadoras impedem a liberação das promissoras pesquisas. Há ainda, segundo ele,, outro problema: "Uma lei como essa, além de frear o avanço da; ciência no Brasil, pode fazer com que os cientistas deixem o país rumo a outros lugares onde possam continuar-suas pesquisas."
Ele entende que os países pobres não podem sair perdendo no. campo das descobertas científicas. Para; isso, o Nobel defende a regulação das patentes para evitar abuso e a criação de um fundo internacional de pesquisa, bem como a participação dos governos para equilibrara balança entre as empresas que visam o lucro e o interesse, da; sociedade: "Temos que frear o poder do mercado para se chegar ao bem-estar social. O que ocorre hoje é que se pesquisa para 10% da população mundial. O dinheiro para pesquisar tuberculose, malária, diarréia e pneumonia é muito escasso, pois estes doentes não são um mercado consumidor promissor."
A diferenças entre países do primeiro e terceiro mundo, no caso das células-tronco, gerou uma especificidade. No Brasil, diferentemente dos EUA - onde só o dinheiro público não pode ser usado neste tipo de pesquisa -, não se pode retirar células-tronco embrionárias. Por isso, uma equipe de pesquisadores do Instituto de Biociências (IB) da USP - importou dos EUA quatro linhagens destas células para prosseguir estudos inicialmente feitos com células de camundongos.. "Estamos muito entusiasmados com o recebimento das células-tronco embrionárias humanas, pois se trata de um modelo experimental de enorme valor em termos de linhas de pesquisa que podem ser abertas", comenta Lygia da Veiga Pereira, professora do IB. Ela, apesar de animada, ressalta: "Perdemos uma parte fundamental do estudo, perdemos autonomia e ficamos à mercê do desenvolvimento feito em outro país."
Carlos Vogt, presidente dá Fapesp e vice-presidente-da SBPC, também se opõe à proibição: "A lei, nos termos em que foi aprovada, criará sérios obstáculos à pesquisa científica e ao desenvolvimento tecnológico em um setor em que a transferência de tecnologia, da descoberta à sua aplicação, é extremamente rápida." A seu ver, há que "transformar o texto da lei em instrumento de progresso e independência tecnológica, evitando assim danos irreparáveis aos mecanismos de geração de conhecimento e de riqueza".
No mundo - A pesquisa na área é tão promissora que acaba de ser inaugurado na Universidade de. Cambridge, Reino. Unido, um centro de pesquisa em células-tronco extraídas de embriões. O Instituto Célula-tronco custou US$ 30 milhões. Segundo seus pesquisadores, dentro de cinco anos devem começar os primeiros testes com seres humanos.
Nos EUA, John F. Kerry, candidato democrata à Casa Branca, recebeu o apoio de 48 cientistas laureados com o Prêmio Nobel. Ele acusa Bush de ignorar a necessidade de buscar a cura do Mal de Alzheimer, Aids e outras doenças fatais. E procura atrair a legião dos incomodados com os limites impostos por Bush. à pesquisa de células-tronco embrionárias. Kerry repetiu sua promessa de reverter as restrições do atual presidente ao financiamento federal para pesquisa de células-tronco. E frisou que os americanos merecem um presidente que acredite na ciência".
O Congresso; norte-americano também luta pela liberdade de pesquisa com células-tronco. Em 23 de junho, foi apresentado novo projeto que poderá, se aprovada, obrigar o governo a,financiar as pesquisas ora dificultadas. E no Japão, por vezes taxado de país conservador, um conselho do governo decidiu, no mesmo 23 de junho, permitir a clonagem de embriões humanos para fins de pesquisa.
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Jornal da Ciência online