Estudou provou falha no sistema imunológico daqueles pacientes com complicações da doença
Uma situação comum foi identificada em pacientes com quadros severos de dengue . Nessas pessoas, as células do corpo responsáveis por inibir e controlar o processo inflamatório são disfuncionais. A descoberta é resultado de uma pesquisa do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Os cientistas observaram que um distúrbio parecido foi apontado em pacientes que morreram de covid-19.
A pesquisa focou nas células chamadas T reguladoras (Treg) do sistema imunológico. Quando um organismo reconhece um agente causador de determinada doença, elas agem de maneira específica para combatê-lo. Acontece que, em pacientes com quadros leves de dengue, células T reguladoras específicas para o vírus da doença foram detectadas.
Mesmo naqueles que se infectaram pela primeira vez, essas células se mostraram capazes de produzir a citocina IL-10, que tem efeito importante em controlar a inflamação. Ainda, expressaram moléculas que contribuem para a diminuição de respostas inflamatórias. Nada disso foi identificado no organismo de pessoas que tiveram dengue grave ou hemorrágica
"Fiz uma análise mais profunda e detalhada de cada uma das células e suas funções. Neste trabalho, observamos uma população de células Tregs funcionais específicas para o vírus da dengue presente apenas em voluntários com dengue leve (tratada em casa). No grupo grave, a população dessas células não é funcional”, afirma a biomédica Marcela Gonçalves, que está em residência pós-doutoral no ICB.
A especialista em imunologia celular explica que os mecanismos que travam o funcionamento das Tregs quando os pacientes estão infectados com dengue ainda precisam ser investigados. Por enquanto, tudo indica que são múltiplos fatores. "Parece que a indução da resposta reguladora mediada por Tregs depende de vários contextos, mas todos eles levariam ao impedimento de ativação funcional das Tregs, muito provavelmente por conta da força da inflamação inicial", supõe.
O que pode ajudar a melhorar a resposta do corpo à dengue?
Como a vacina contra a dengue ainda está sendo disponibilizada em número reduzido de doses para crianças e adolescentes, a sugestão da cientista Marcela Gonçalves é a produção de fármacos que funcionem diretamente nas células T. "Sabemos que muitas pessoas não terão acesso imediato às vacinas. Seria importante, então, o desenvolvimento de fármacos para estimular a atividade de T reguladoras no organismo de modo a combater o processo de hiperinflamação que leva à complicação dos quadros de dengue", propõe.
Ela reforça que tratamentos baseados nessas células já existem. Um exemplo é um tratamento inovador de leucemia, chamado Car-T . Pesquisadores do Butantan, da USP e do Hemocentro de Ribeirão Preto estão desenvolvendo o procedimento para a rede SUS. "Você retira o sangue do doente, isola as células, faz o enriquecimento com as T reguladoras do próprio paciente e depois devolve o sangue a ele. Assim, se consegue diminuir a inflamação. Embora eficiente, por enquanto, é caro", afirma Gonçalves.
Como a pesquisa foi realizada?
O estudo foi realizado com 123 pacientes, entre voluntários saudáveis que nunca tiveram dengue, pacientes com dengue clássica ou leve (tratamento realizado em casa) e pacientes com dengue com sinais de alarme, grave ou hemorrágica.
Eles foram avaliados durante a fase febril, três a quatro dias após o início dos sintomas, e, em seguida, após sete e 30 dias desde o início dos sintomas. Os resultados ainda serão publicados em um artigo.
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