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Diário Popular (Pelotas, RS) online

Pedro Hallal falará à CPI da pandemia

Publicado em 17 junho 2021

Por Mih

Mortes que poderiam ter sido evitadas, suspensão da Epicovid19-BR e censura devem compor a pauta

O ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pedro Hallal, será o primeiro epidemiologista a ser ouvido pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, no Senado Federal. O número de mortes que poderiam ter sido evitadas no país será um dos temas centrais da manifestação. Embora não tenha revelado dados ao Diário Popular, Hallal adiantou que irá traçar paralelos com a média mundial para comprovar quantas milhares de vidas poderiam ter sido poupadas, se o governo federal tivesse investido pesado em três frentes: testagem em massa, rastreamento de contatos e compra de vacinas.

É um dos alertas que será disparado pelo pesquisador, ao ser ouvido na próxima sexta-feira, dia 25 de junho, a partir das 9h. "Vamos demonstrar o cenário que o Brasil poderia ter hoje não fosse a postura anticiência do governo", afirmou na manhã desta quinta-feira (17). As análises com diferentes países do mundo levarão em conta três aspectos distintos: população, desenvolvimento socioeconômico e estrutura etária.

Estudo nacional no centro do debate

O "boicote" do Ministério da Saúde ao estudo Epicovid19-BR, coordenado pela UFPel, também entrará em pauta. A pesquisa desenvolvida em 133 municípios tinha objetivo muito maior do que estimar o percentual de brasileiros infectados com o novo coronavírus. O trabalho permitiria determinar o percentual de infecções assintomáticas, avaliar os sintomas mais relatados e analisar a velocidade de disseminação do contágio ao longo do tempo.

E, de posse dessas informações, políticas públicas de enfrentamento da pandemia poderiam ser definidas. Com apenas três fases realizadas, entretanto, em julho de 2020, o governo federal decidiu suspender a Epicovid19-BR. "E, agora, contratou um novo estudo com preço quase 20 vezes maior", destaca Pedro Hallal, ao referir-se ao Prev Cov - anunciado há pouco mais de um mês -, que custará R$ 200 milhões aos cofres públicos.

Outras duas etapas da Epicovid chegaram a ser realizadas, para dar seguimento ao monitoramento nacional, mas sem verba da União. Em agosto de 2020, a pesquisa - ainda sob coordenação da UFPel - ocorreu através de financiamento do programa Todos pela Saúde; um fundo criado pelo Itaú Unibanco. Entre janeiro e março de 2021 foi desenvolvida uma quinta fase com recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e a coordenação passou, então, à Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

"O Ministério da Saúde abriu mão de ter um acompanhamento mensal da evolução da pandemia", lamenta o doutor em Epidemiologia. O estudo, considerado o maior já realizado sobre a evolução da Covid-19 no Brasil, fazia uso de testes sorológicos para verificação de anticorpos.

Censura também entrará no radar

O episódio ocorrido em junho do ano passado, quando o então reitor da UFPel foi a Brasília para apresentação dos resultados e acabou surpreendido com a retirada de um slide da exposição que faria sobre a Epicovid19-BR, também deve entrar na mira das perguntas da CPI da Pandemia.

"Houve censura de dados", afirma. O material suprimido pelo Ministério da Saúde apontava que os indígenas possuíam cinco vezes mais chance de contrair o coronavírus.

Saiba também

- Motivo de orgulho: O convite para falar à CPI é encarado por Pedro Hallal como reconhecimento à trajetória do Centro de Pesquisas Epidemiológicas, referência nacional e internacional. "É momento de orgulho e de valorização de um trabalho desenvolvido há 40 anos, com excelência. Será um momento de destacar também a UFPel", lembra.

- Cesar Victora: O epidemiologista e premiado pesquisador, integrante do Centro de Epidemiologia da UFPel, também deverá ser ouvido pelo Senado Federal. A data ainda não está definida. Procurado, Cesar preferiu não se manifestar.

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