Criada em 1999, a paulistana Datha Alimentos fabricava artesanalmente 800 discos de pizzas por mês com dois funcionários. Até que os sócios da empresa, o casal Odair Simões e Magali Alves, resolveram procurar o Disque Tecnologia, da USP, para industrializar o processo. Nos últimos cinco anos, a Datha gastou R$ 8 mil nos serviços de consultoria tecnológica, que incluíram desde a montagem da linha de produção das pizzas à assessoria na busca de profissionais. Mas os ganhos compensaram: hoje, ela faz mensalmente 16 mil pizzas em quatro sabores e a receita saltou de 4,8 mil para 35 mil reais, com rentabilidade entre 10% e 15%. A fábrica emprega sete funcionários e vende seu produto, com a marca Pizza Rápida, em várias redes de supermercados da capital. "O apoio do Disque Tecnologia foi fundamental", afirma Simões.
A Datha faz parte de uma crescente legião de micro e pequenos empreendimentos ávidos por absorver conhecimento e buscar soluções para problemas técnicos e operacionais, com a finalidade de se modernizar e enfrentar a concorrência. Dez anos atrás, esse movimento era praticamente incipiente. De lá para cá, houve uma feliz coincidência. Ao mesmo tempo que a abertura do mercado brasileiro às importações, no início dos anos 90, se aliava ao processo de globalização da economia e expunha as deficiências das empresas nacionais, as instituições de ensino e pesquisa públicas e privadas começaram a se abrir para oferecer tecnologia aos negócios de pequeno porte. O resultado é que cada vez mais micro e pequenas empresas se conscientizam da necessidade de se atualizar tecnologicamente para obter êxito.
Segundo Juvenal Schalch Neto, coordenador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), o padrão de exigência de qualidade aumenta constantemente e obriga os pequenos a descobrirem processos modernos para obter competitividade. "Eles têm de se aproximar dos centros de tecnologia para atualizar seus métodos", pondera Schalch. Mesmo porque, hoje, está cada vez mais fácil para os empresários encontrar uma fonte de solução para seus problemas. Dezenas de centros produtores de tecnologia espalhados pelo país oferecem serviços voltados para as necessidades dos pequenos empreendimentos (verifique o quadro "Onde estão as soluções"). E muitos dos que recorreram a esse tipo de assessoria, como a Datha, já estão colhendo os frutos da melhoria alcançada.
Na opinião de Luiz Fernando de Gouveia Buffolo, coordenador do Disque Tecnologia, os problemas das microempresas geralmente são de fácil solução, porque muitas das respostas estão prontas e já são usadas em larga escala. "O contato com essas soluções significa um avanço tecnológico para elas", afirma. Desde a sua criação, em 1991, o Disque Tecnologia atendeu a mais de 20 mil empresas, 70% delas à procura de informações básicas, conforme pesquisa feita no ano passado pela instituição. A maioria dos serviços de consultoria (65%) é feita em micro e pequenas empresas, e o apoio requisitado vai desde o simples ajuste de uma máquina até o planejamento de uma unidade fabril.
TECNOLOGIA MÓVEL - Para os pequenos empreendedores, o caminho mais fácil para descobrir os canais de tecnologia são os escritórios do Sebrae espalhados pelo país. O órgão mantém acordo com os principais centros de pesquisa e desenvolvimento brasileiros por meio de dois programas: o Sebrae Tecnologia (Sebrae-Tec), que presta consultoria nas áreas de administração e produção, e o Programa de Apoio Tecnológico às Microempresas (Patme), voltado para o desenvolvimento de produtos inovadores. Nos dois casos, o Sebrae subsidia até 70% do custo das consultas, atualmente de R$ 30 a hora. "Nosso trabalho é o de direcionar as empresas para os celeiros de tecnologia", afirma Cláudio Tervydis, gerente de tecnologia do Sebrae-SP.
No começo do ano passado, o Sebrae juntou-se ao Instituto Nacional do Plástico e ao IPT para criar o Projeto de Unidades Móveis de Atendimento Tecnológico às Micro e Pequenas Empresas (Prumo), dirigido à indústria plástica. O serviço envia à firma um engenheiro do IPT, o qual elabora um diagnóstico de melhoria tecnológica e, depois, retorna à companhia com o laboratório móvel preparado para fazer análises comuns nos processos produtivos. No final, a empresa tem um panorama das suas condições e das correções necessárias. O custo do serviço, sem subsídio, é de R$ 3 mil, e os gastos com viagens da unidade móvel são pagos pelo Sebrae. "Quando necessário, os técnicos fazem até ajustes de maquinário e interagem no processo produtivo", afirma Maria do Carmo Zorzenon Simi, coordenadora do Prumo, cujos dois laboratórios móveis já visitaram mais de 100 empresas no estado de São Paulo. Este ano, a meta é ampliar o número de vans para cinco e diversificar os setores atendidos.
Uma das empresas que conseguiram melhorar o processo produtivo com o auxílio do Prumo foi a paulistana Termotec, fabricante de plástico reciclado granulado. "O serviço foi muito importante, porque colocou nossos funcionários em contato com os métodos mais modernos de produção", avalia Renata Daruj Gil, sócia da empresa. A equipe de técnicos visitou por três dias a Termotec, onde fez ensaios físicos, incluindo testes de resistência, impacto e fluidez da matéria-prima. Além disso, os 20 empregados foram submetidos a palestras, com informações sobre as novidades disponíveis. Com a ajuda do Prumo, a Termotec, que processa 100 toneladas de granulado por mês, aumentou sua produtividade em 9% e se prepara para obter o certificado de qualidade ISO 9000.
LÁPIS INOVADOR - Outro pequeno empresário que recorreu ao IPT foi o engenheiro mecânico Frank Sarnighausen, da indústria de lápis de cor Top Color, de São Carlos (SP), empresa de dez funcionários que fatura atualmente R$ 1 milhão anuais com a produção de 40 mil dúzias de lápis. Samighausen sonhava produzir uma mina (espécie de grafite usado em lápis colorido) com material termoplástico, uma alternativa para o material tradicional à base de água. Tentou durante cinco anos e quase desistiu, até que, através do Prumo, conseguiu viabilizar a idéia em 1999. O Prumo desenvolveu toda a tecnologia do processo industrial, da mistura da matéria-prima à temperatura ideal para fazer o novo produto. O empresário investiu R$ 25 mil no projeto dos novos lápis, incluindo as visitas de três dias dos técnicos. "O trabalho do Prumo possibilitou pôr em prática a minha idéia", comemora o empresário. Ele já patenteou o produto, que chegará ao mercado no segundo semestre. Diante da oferta crescente de serviços de tecnologia, não há desculpas para que os pequenos empresários deixem de buscar ajuda para o desenvolvimento de um novo negócio ou produto, aperfeiçoamento ou correção de processos industriais e comerciais. Um bom motivo para, pelo menos, conhecer os serviços disponíveis, é que a primeira consulta em todos eles é de graça. Outro: o incremento abre novas perspectivas para a empresa.
Cláudio Eugênio
ONDE ESTÃO AS SOLUÇÕES
Assessoria de centros tecnológicos vai do design à gestão e engenharia Industrial
Centro de Design da Universidade Bandeirantes (Uniban)
tel. (0xx11l) 7664-9087
Presta assessoria no desenvolvimento de novos produtos e busca soluções de problemas específicos de design. A instituição se prepara para atender a outras áreas, como engenharia e mecânica.
Centro de Pesquisas da Escola de Engenharia Mauá
tel. (0xx11) 4239-3000
Dá assessoria para a criação de produtos e solução de problemas operacionais e técnicos que envolvam a indústria nas áreas de eletrônica, química, mecânica e alimentos.
Centro de Tecnologia do Varejo, do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac)
tel. (0xx11) 864-7211
Dá suporte às empresas para a resolução de problemas em todos os segmentos do varejo. Opera nas áreas de marketing, vendas, administração e treinamento; identifica necessidades das empresas e propõe soluções práticas.
Disque Tecnologia, da Universidade de São Paulo (USP)
tel. (0xx11) 211-0801
Atende a todas as áreas do conhecimento. Assessora o desenvolvimento de novos produtos e ajuda a resolver problemas relacionados à produção e gestão do negócio. As áreas de maior procura são: prestação de serviços, química, agropecuária e agribusiness.
Fundação para o Desenvolvimento da Unesp (Fundunesp), da Universidade Paulista (Unesp)
tel. (0xx11) 223-7088
Atua em todas as áreas do conhecimento em suas 14 unidades espalhadas pelos campi da Unesp no estado de São Paulo. As áreas com maior demanda são agricultura, agribusiness, pecuária, engenharia e produção de alimentos.
Instituto de Pesquisas e Estudos Industriais (Ipei), da Faculdade de Engenharia Industrial (FEI)
tel. (0xx11) 419-0200
Presta serviços em cinco áreas da engenharia: eletricidade (inclui eletrônica e informática), mecânica (inclui metalurgia), química, têxtil e engenharia industrial e da produção. Oferece consultoria e assessoria para desenvolvimento de novos produtos, treinamento de funcionários, etc.
Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT)
tel. (0xx11) 3767-4000
Pesquisas bibliográficas, comunicações técnicas e publicações, cursos, treinamento especializado, orientação de funcionários. Também disponibiliza acervo tecnológico. Engloba o Centro de Informação Tecnológica (Citex), o Programa de Apoio Tecnológico à Exportação (Projex) e o Projeto de Unidades Móveis de Atendimento Tecnológico às Micro e Pequenas Empresas (Prumo).
Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital)
tel. (0xx19) 241-5222
Faz pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e presta assistência tecnológica e industrial em todas as áreas que envolvam a manipulação de alimentos. Dispõe de laboratórios para avaliação de projetos de engenharia de produção e propriedades físicas e químicas dos alimentos, entre outras.
Instituto de Tecnologia de Software de São Paulo (ITS-Softex)
tels. (0xx11) 819-1395/0319
Presta assessoria para empresas que produzem software, hardware e serviços para a Internet no desenvolvimento e organização de planos de negócios. Funciona somente às terças e quintas na parte da tarde, na sede do instituto. Atendimento com hora marcada.
Núcleo de Extensão da Universidade de São Paulo (USP-São Carlos)
tel. (0xx16) 260-8404
Atua em todas as áreas do conhecimento, faz pesquisas e encaminha soluções para problemas administrativos, operacionais, desenvolvimento de produtos, etc. Está lançando um serviço nos moldes do Disque Tecnologia da USP
Programa de Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (Pipe) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp)
tels. (0xx11) 838-40/91/4092
Mantém um programa de apoio ao desenvolvimento de produtos inovadores e oferece educação científica e tecnológica para pequenas empresas. Para se Inscrever no programa, é preciso estar ' associado a um pesquisador (qualquer pessoa com curso universitário e disponibilidade de tempo para acompanhar o projeto).
Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai)
tel. (0xx11) 0800-55-1000
Atua no desenvolvimento de produtos e resolução de problemas na indústria. Entre eles, planejamento de produção, fluxo operacional e novos métodos de fabricação.
Obs.: a consulta Inicial é gratuita em todas as instituições.
Notícia
FAPESP Na Mídia