De acordo com estudo realizado na Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu, o diagnóstico unicamente em exames sorológicos para leishmaniose - recomendado pelo Ministério da Saúde - pode apresentar falhas.
O resultado pode ter informações cruzadas com as de outros micro-organismos, como a Doença de Chagas.
De acordo com a professora Simone Baldini Lucheis, pesquisadora científica da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), órgão da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, para evitar falsos positivos seria necessário realizar exames de contraprova, como o exame parasitológico direto e a Reação em Cadeia pela Polimerase (PCR, na sigla em inglês) - técnica biomolecular que permite a síntese enzimática in vitro de sequências do DNA.
"O exame convencional para Leishmania pode apresentar resultados falsos positivos, pois, no momento do exame, o animal pode ter produzido anticorpos contra outros parasitas que são da mesma família da Leishmania, como Trypanosoma cruzi.
Em muitos casos, o animal só está infectado por um deles, mas o exame acusa a presença do outro protozoário", disse a pesquisadora.
O trabalho, resultado da dissertação de mestrado da médica veterinária Marcella Zampoli Troncarelli, da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Unesp de Botucatu, foi publicado na revista Veterinary Parasitology.
De acordo com Marcella, como há possibilidade de reações cruzadas à sorologia, objetivou-se com o estudo a elucidação diagnóstica por meio da associação de três técnicas: a RIFI, recomendada pelo Ministério da Saúde; o exame parasitológico direto, a partir de fragmentos de fígado e baço; e o exame PCR.
"A associação das três técnicas ajudou a identificar os animais realmente infectados por Leishmania e, devido à elevada sensibilidade do PCR, foi possível detectar animais que haviam apresentado resultados negativos à sorologia", afirmou.
"Quando realizamos o exame parasitológico e o PCR para Leshmania, foram obtidos, respectivamente, resultados positivos para 59% e 76% nas amostras de fígado e 51% e 72% nas amostras de baço dos cães de Bauru. Nenhuma amostra foi positiva pela PCR para pesquisa de T. Cruzi.
Estes dados reforçam a ocorrência de reações cruzadas à sorologia", disse a veterinária, que atualmente faz o doutorado na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da Unesp.
Outro problema do exame sorológico, segundo ela, é que o resultado pode apontar também os "falsos negativos" - isto é, o exame resulta negativo, mas na realidade o animal está infectado: "Por estresse, imunodepressão causada pela doença, ou fatores individuais, o anima pode não produzir anticorpos em níveis detectáveis pelos testes sorológicos. Pela PCR, registramos um número maior de animais infectados do que a própria sorologia. Ou seja, esse exame elucidou os "falsos negativos", afirmou Marcella.
Segundo ela, devido à elevada especificidade da PCR, os resultados são mais precisos: "O exame PCR é usado predominantemente em pesquisas, porque é uma técnica cara, embora ao longo dos anos o preço venha se reduzindo. É um exame imprescindível e muito sensível porque ele detecta o DNA do parasita", concluiu.
Fonte: Fapesp