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Cruzeiro do Sul

Paulo Vanzolini deixa saudade em Sorocaba

Publicado em 30 abril 2013

Por Maíra Fernandes

Médico, zoólogo, poeta, compositor e cantor, Paulo Vanzolini morreu às 23h35 do domingo, no Hospital Israelita Albert Einsten, na Capital. O músico foi internado no dia 25 de abril, quando completou 89 anos, com um quadro de pneumonia extensa, na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Vanzolini deixa a mulher, a cantora Ana Bernardo, e os filhos do casamento com sua primeira mulher, Ilze.

Expoente do samba paulista e autor de clássicos do cancioneiro popular como Volta por cima, Praça Clóvis e Ronda, Vanzolini, que se dividia entra a vida de pesquisador acadêmico e músico boêmio, alimentava uma relação estreita com Sorocaba há cerca de 15 anos, desde que casou com Ana Bernardo, afilhada da sorocabana Mazé Muraro. "Em primeiro lugar, perdemos um amigo, pois em função de estar casado com minha afilhada, ele se tornou amigo da casa. Em 1º de abril, ele ligou para me cumprimentar pelo aniversário, e no dia 25 liguei para parabenizá-lo mas ele já estava internado. Posso dizer que além de médico, pesquisador, zoólogo, poeta, compositor, ele era, em primeiro lugar, uma pessoa de uma generosidade acima do comum", recorda Mazé, que recebeu a notícia da afilhada por volta das 0h da segunda-feira e não conseguiu seguir até o velório, ocorrido no próprio hospital e no cemitério da Consolação na tarde de ontem.

Mazé lembra os feitos do amigo que chegou a doar o acervo de sua biblioteca particular adquirida com o dinheiro dos direitos autorais conquistados com a canção Ronda - e onde continha obras raras - para o Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP), onde trabalhou por 40 anos, além de outras ações beneficentes. No ano passado, Vanzolini esteve em Sorocaba, participando do projeto realizado por Mazé, o Samba, choro e seresta. No evento, realizado em sua homenagem, o músico cantou clássicos do seu repertório e contou histórias. "Foi a última vez que ele veio, cantou como sempre fez, participou e dividiu suas histórias", recorda Mazé sobre o amigo cujas canções foram interpretadas por grandes nomes da música nacional como Chico Buarque, Paulinho da Viola, Miúcha, Maria Bethânia, Martinho da Vila e Inezita Barroso.

Para recordar a carreira e homenagear o músico, Mazé adianta que o grupo Samba, choro e seresta homenageará Vanzolini com apresentação do músico Roberto Seresteiro, às 20h30, no Rancho da Costela. O músico, aliás, dividiu recentemente o palco com Vanzolini.

Histórico

Nascido em São Paulo em 25 de abril de 1924, Vanzolini se formou em zoologia pela USP, e obteve o título de doutor em zoologia pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. Além do seu legado na pesquisa brasileira, o músico e cientista ainda foi um dos idealizadores da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Vanzolini também se enveredou para os lados das letras, e publicou pelo Clube de Poesia o livro Lira de Paulo Vanzolini, em 1951, mesmo ano que compôs o seu samba mais famoso, Ronda.

A última composição de sua carreira foi a música Quando Eu For Eu Vou Sem Pena, gravada por Chico Buarque em 1997, onde afirma no refrão: Quando eu for, eu vou sem pena. Pena vai ter quem ficar. Ao longo da sua carreira gravou os álbuns Onze Sambas e uma Capoeira, A Música de Paulo Vanzolini, Por Ele Mesmo e Acerto de Contas.

Ente outros prêmios e condecorações, o cientista e compositor foi premiado pela Fundação Guggenheim, em Nova Iorque, em virtude de suas contribuições para o progresso da ciência.

maira.fernandes@jcruzeiro.com.br