Notícia

Sociedade Brasileira de Computação

Parques tecnológicos — meios de inovação

Publicado em 05 agosto 2006

Na década de 1930, os estudantes da Universidade de Stanford, na Califórnia, precisavam deixar a região de São Francisco para encontrar trabalho. O engenheiro Frederik Terman, pró-reitor da Universidade, concebeu um programa para resolver o problema. Encorajou os cientistas e engenheiros recém-formados a instalarem negócios próprios, numa área próxima à Universidade, e buscou investidores interessados em empresas novas e de produtos promissores. Em 1939, dois ex-alunos de Terman montaram o primeiro negócio na área. Os sobrenomes deles: Hewlett e Packard. A HP foi a primeira empresa fundada no que viria a se tornar o Vale do Silício. Nasceram lá, ainda estão lá, ou se mudaram de lá milhares de empresas de alta tecnologia: a Intel, a Xerox, a Apple, Google...O Vale do Silício é um parque tecnológico. Talvez o mais famoso entre as centenas ou milhares hoje em funcionamento, e muito bem-sucedido em seu objetivo principal: gerar empregos e riqueza por meio da aplicação de conhecimento a produtos e serviços. Parques tecnológicos espalharam-se pelo mundo - na mesma velocidade com que o conhecimento se tornou, mais e mais, a matéria-prima da competitividade. A importância crescente da inovação levou muitos países a se organizarem para criar seus "Vales do Silício".
A realidade mostrou o acerto dessa política. Hoje, há nos Estados Unidos 81 parques; na China, 64; na Finlândia, 23; na Espanha, 25. As grandes somas investidas deram a esses países retorno altamente compensador. Um exemplo: em 30 anos, o parque de Sophia Antipolis, na França, reuniu 1.300 empresas e gerou 26 mil empregos. Cada um desses parques tem contornos diferentes. O que têm em comum é ser - como o Vale do Silício - um ponto de encontro entre empresas interessadas em inovar para crescer e profissionais bem formados capazes de descobrir como fazê-lo.
São Paulo tem as mais dinâmicas empresas do País e as que mais investem em inovação, tem também os cientistas e engenheiros - pois, governo após governo, o Estado investe em institutos de pesquisa, universidades e no financiamento de suas atividades. Cerca de 1% de todas as descobertas e trabalhos científicos produzidos no mundo tem endereço paulista. O Estado está, portanto, maduro para também estabelecer sua plataforma de parques tecnológicos. Por que não alavancar, aqui, nossos Vales do Silício? O governo deu a resposta: em fevereiro, criou o Sistema Paulista de Parques Tecnológicos - uma rede articulada de pontos de encontro empresa-pesquisador. Trata-se de uma iniciativa da Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico implantada por meio de um projeto da Fundação de Amparo à Pesquisa, a FAPESP.
É sabido que um obstáculo para o desenvolvimento brasileiro é a distância ainda a separar as empresas do conhecimento dos pesquisadores. Parques tecnológicos são instrumentos para aproximá-los. Com eles, mais benefícios serão gerados para o País a partir do investimento público já feito: o conhecimento poderá ser apropriado com mais intensidade pelas empresas e aplicado a produtos para gerar emprego, renda, impostos. As cidades que vão abrigar os cinco primeiros parques - Campinas, São Carlos, São José dos Campos, São Paulo e Ribeirão Preto - já são pólos de geração de conhecimento e de produção industrial. Em cada uma delas, prefeituras, Estado, universidades e empresários se organizam para instalá-los, levando em conta suas potencialidades e necessidades.O Sistema Paulista de Parques Tecnológicos vai multiplicar e maximizar o retorno do investimento dos contribuintes. Nas universidades paulistas, o Estado investe quase 10% do ICMS; na Fapesp, 1% da arrecadação tributária. É estratégico criar as condições para que a sociedade extraia sempre mais desse esforço - como também é estratégico e de maturação longa todo o investimento na atividade de ciência, tecnologia e inovação. A implantação de parques não será diferente: mais do que um projeto de governo, o sistema de parques é um projeto de Estado. Para que se materialize, trabalho e recursos serão necessários; mas, acima de tudo, determinação e persistência.
Para o século 21, nenhum futuro é mais desejável do que a integração plena à economia do conhecimento. Os parques tecnológicos do Estado de São Paulo são o passo a ser dado, aqui e agora, para construir esse futuro.

*João Steiner, astrofísico, diretor do Instituto de Estudos Avançados da USP, é coordenador do Sistema Paulista de Parques Tecnológicos