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Gazeta Mercantil

PAREM O MUNDO QUE EU QUERO DESCER (1 notícias)

Publicado em 14 de outubro de 1996

Por PAM WOODALL — The Economist
"Estamos sofrendo, não do reumatismo da velhice, mas das dores crescentes de mudanças rapidíssimas, com os penosos reajustes entre um período econômico e outro. O aumento da eficiência técnica tem ocorrido mais velozmente do que nossa capacidade de lidar com o problema de absorção do trabalho." Um comentário sobre o cenário contemporâneo? Recuemos algumas décadas: John Maynard Keynes disse isso em 1930. O comentário serve para mostrar que o mundo já viu tudo isso antes. As pessoas sempre reclamam que o ritmo da mudança é rápido demais, quer se trate de ferrovias, quer do automóvel, quer do computador. Mas no mundo desenvolvido, graças a mudanças sempre muito rápidas, o cidadão médio de hoje goza de um padrão de vida mais elevado do que o de um rei, 200 anos atrás. Só que, freqüentemente, ele não desfruta tanto esse padrão quanto poderia: teme que tudo isso desapareça ao clicar de um mouse. Neste mundo novo e às vezes ameaçador, a idéia que vem sendo defendida pelo manual de economia parece oferecer uma explicação útil. Na verdade, cada um dos argumentos a respeito de como a economia convencional é falha se baseia em um pouco de verdade. Entretanto, suas conclusões são erradas. É verdade que a globalização e a tecnologia tenderão a ampliar as desigualdades salariais; mas não é verdade que apenas uma pequena elite se beneficiará. Como a tecnologia da informação (TI) é mais difusa do que as tecnologias anteriores, mais empregos poderão ser perdidos; mas mais empregos também serão criados. Se capital e tecnologia podem hoje ser transferidos através das fronteiras com maior rapidez, dando às economias de baixos salários acesso a melhor maquinaria do mundo rico, vantagens comparativas também podem ser transferidas mais rapidamente do que no passado, mas isso não prejudica a causa do livre mercado. Dois erros mais comuns estão na base de muitos dos equívocos econômicos de hoje. Em primeiro lugar, as economias estão se ajustando melhor a mudanças, por meio de movimentos relativos de preços, do que as pessoas reconhecem. E, em segundo lugar, tais transferências de preços relativos não deveriam ser entendidas erroneamente, como sinais de que a teoria é falha. Mudanças em salários relativos como um resultado da TI e da globalização, por exemplo, são exatamente o que a teoria convencional teria previsto. Ao mesmo tempo, a fé na economia convencional pode, até certo ponto, ser minada por estatísticas econômicas enganosas. Há bons motivos para se acreditar que os números oficiais, em todo lugar, subestimam o crescimento por ampla margem. A medição estatística não é apenas uma aborrecida questão acadêmica. Afeta decisões na vida real. Os governos traçam suas políticas, e investidores apostam bilhões de dólares, com base em números talvez enganosos. Além do mais, na medida em que subestimam a verdadeira taxa de crescimento das rendas reais, as cifras oficiais tendem a exacerbar o temor de que a TI contenha muitas ameaças e ofereça poucos benefícios aos trabalhadores, aumentando, assim, sua resistência à mudança. Se o mundo precisa de novos manuais, é sobre estatísticas econômicas, não economia. Afinal de contas, se a TI realmente estimula as rendas reais, será uma pena não saber disso. NOVAS EXIGÊNCIAS A teoria econômica nunca descreveu o mundo real completamente; é provável que jamais o faça. A competição perfeita não existe, e persistem muitas dúvidas a respeito do papel preciso da tecnologia e do capital humano no crescimento. Nessas duas áreas, os economistas estiveram fazendo algumas sérias reavaliações nos últimos anos.'Entretanto, nem a TI nem a globalização subvertem as regras econômicas básicas. Na verdade, a TI resulta no oposto, fazendo com que as economias funcionem mais de acordo com o que dizem os manuais. A teoria da competição perfeita, um elemento básico do manual convencional de economia, presume com otimismo que a informação é abundante, o custo das transações é zero e não há barreiras à entrada no mercado. Computadores e telecomunicações avançados ajudam a tornar esses pressupostos menos improváveis. A TI, e a Internet em particular, toma abundantes as informações sobre preços, produtos e oportunidades de lucros, servindo-os mais rapidamente e reduzindo seus custos. Isso, por sua vez, torna os mercados mais transparentes, permitindo que compradores e vendedores comparem preços com maior facilidade. Ao mesmo tempo, avanços em telecomunicações diminuíram o custo das transações, ao reduzir os custos das comunicações entre partes distantes do globo e ao permitir o contato direto entre compradores e vendedores, dispensando o intermediário. A TI também diminuiu as barreiras à entrada no mercado, melhorando as bases econômicas de unidades menores. Em outras palavras, as hipóteses básicas da competição perfeita estão começando a se tomar verdade. Melhor informação, baixos custos de transporte e barreiras reduzidas ajudam a tornar o mercado mais eficiente e competitivo. Ajudando a garantir que os recursos sejam alocados a seus usos mais produtivos, deverá a longo prazo estimular o crescimento econômico. O problema é que, se as economias começarem a seguir mais de perto os manuais de economia, muita gente pode não gostar dos resultados. Exemplos de mercados eficientes, com informação abundante e custos baixos de transporte já existem nos mercados financeiros, onde os preços mudam rapidamente em resposta a mudanças de oferta e demanda. Se os mercados de produtos e trabalho se tornarem mais eficientes e começarem e se comportar mais como os mercados financeiros, os preços e salários relativos também poderão se mover mais rapidamente (e, portanto, mais penosamente), dando às empresas e trabalhadores menos tempo para se ajustarem. Embora nem a TI nem a globalização exijam que as normas básicas da economia sejam reescritas, exigem que os responsáveis pelas instâncias decisórias compreendam melhor os fundamentos econômicos, para responder à mudança rápida e à maior incerteza do modo mais apropriado. O modo errado é os governos usarem protecionismo e subsídios para resguardar trabalhadores e empresas da mudança; isso também protege as economias de poderosas fontes de crescimento. Em vez disso, a tarefa dos governos é dar às pessoas as ferramentas de que precisam para enfrentar melhor as mudanças. Só então as economias desfrutarão plenamente dos ganhos de produtividade que a TI é capaz de distribuir.