O engenheiro eletricista José Maria Villac Pinheiro criou, em 1993, em São Paulo, a NEXUS Geoengenharia, com o objetivo de desenvolver aplicativos gráficos para engenharia. Na época, ele trabalhava com sistemas em linguagem C voltado para o gerenciamento de rodovias e corredores de ônibus para a Prefeitura de Recife, utilizando softwares estrangeiros, que representava e distribuía. Mas, em 2005, a empresa deu uma reviravolta. Deixou as atividades de representante e distribuidor para desenvolver o próprio software. E mais, de maneira colaborativa, na forma de software livre. O que viabilizou as mudanças foi a aprovação de plano de negócios junto à incubadora de empresas Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (CIETEC) que permitiu parcerias formais com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Fundação de Ciências e Tecnologia Espacial (FUNCATE), Fundação Centro Tecnológico de Hidráulica (FCTH), FAPESP, FINEP e CNPQ que, juntos, investiram mais de R$ 1 milhão no negócio.
Com a verba e o apoio das instituições, foi desenvolvido um software livre de geoprocessamento para o cadastro de redes de água, esgoto e consumidores, produzido em conjunto, com a colaboração de mais de 70 analistas e programadores de várias instituições. Isso permitiu a criação de um sistema para gestão de empresas de saneamento que até mesmo algumas empresas estrangeiras de médio e grande porte ainda não conseguiram desenvolver", explica Pinheiro. "Quando fomos aprovados para entrar no CIETEC, não tínhamos recursos e desconhecíamos o mundo do software livre e as suas possibilidades, que é focar o negócio nos serviços de transferência de tecnologia, implementação e suporte, ao invés de lucrar com o fornecimento e comercialização de licenças de uso", conta Pinheiro. "Era um mundo novo e questionávamos: mas vamos fornecer para nossos clientes sem limitação de uso e na forma de código aberto todo o código que desenvolvemos? Não sabíamos como seria a sobrevivência da empresa com a adoção desse novo foco", completa. Mas, com o apoio das novas parceiras, eles passaram a entender como ganhar dinheiro no modelo de negócio com software livre, que abria outras possibilidades de prestação de serviços para a NEXUS, agora focada na qualidade dos serviços prestados e não mais na venda de licenças. Assim, a empresa tornou-se uma desenvolvedora de softwares com tecnologia de mapeamento, na forma de software livre, para empresas de saneamento, além de implementar e capacitar operadoras e parceiros de negócio.
O Brasil, segundo o Sistema Nacional de Informações em Saneamento, perde 42% em faturamento de sua água tratada fornecida à população. Acredita-se que o número chegue a 52%. Isto representa uma perda anual de cerca de R$ 10 bilhões de reais. Reduzindo-se esse montante em 10%, o que é plenamente factível com poucos recursos, temos uma economia anual de R$ 1 bilhão de reais. "Não existe crise para atuação neste mercado. Tanto é que a NEXUS vem firmando parcerias com outras empresas de engenharia para capacitá-las na tecnologia NEXUS no processo de implementação do cadastro de redes e consumidores, para empresas de saneamento", conta Pinheiro.
Segundo o empreendedor, o mercado é grande, mas a concorrência não consegue atendê-lo, principalmente por conta dos preços altos das licenças. "As empresas de saneamento necessitam de muito dinheiro para a conversão de dados e outros serviços, para que os softwares possam ser implementados e operados. E, quando chega a hora de investir no software, os recursos já não são mais suficientes uma vez que foram empregados em aquisição de licenças, explica o empresário, justificando um aspecto favorável ao modelo de software livre, bem mais econômico para o cliente Sem dúvida um dos fatores responsáveis pelo sucesso da NEXUS, segundo Pinheiro, foi focar no setor de atuação: no saneamento e na área de mapeamento de redes e consumidores. Outro ponto relevante que vale para qualquer empresa, foi não descuidar da administração. "Não basta abrir uma empresa; saber administrar é essencial e é uma arte que se aprimora com o tempo, com as experiências vividas, daí também a importância de se contar com a colaboração de especialistas", aconselha. Para montar seu negócio, Pinheiro investiu R$ 30 mil em contratação de colaboradores e montagem de escritório. Porém, ao longo de três anos, a NEXUS, via CIETEC, recebeu financiamento da FAPESP, CNPq e FINEP de mais de R$ 1 milhão, além da colaboração de dois doutores no projeto, capitalizando ao longo de 3 anos mais de R$ 2 milhões de recursos não onerosos.