Entre os dias 13 e 17 de julho, no Câmpus de Araraquara, a Unesp recebeu uma delegação de pesquisadores australianos para a realização de três workshops, nas áreas de Química, Odontologia e Ciências Farmacêuticas. Além de apresentarem as pesquisas de cada setor, os três eventos também criaram uma “força-tarefa” para impulsionar projetos conjuntos nos campos de doenças infecciosas, biofilmes orais e ciência dos materiais.
Na abertura do encontro, a pró-reitora de Pesquisa Maria José Giannini enfatizou que essa iniciativa é consequência de uma missão de pesquisadores da Unesp que em junho de 2014 visitou 12 das principais universidades da Austrália. “O evento traz avanços em relação às missões realizadas no ano passado e ajuda a melhorar essas áreas, trazendo uma grande oportunidade de identificar potenciais parceiros para projetos de pesquisa”, afirmou.
Na cerimônia, o professor Carlos Vergani, assessor de Apoio à Cooperação da Assessoria de Relações Externas (Arex), apresentou dados da Unesp e oportunidades de financiamento de pesquisas no Brasil. Restrito à comunidade unespiana, o evento recebeu 211 participantes, sendo 95 do setor de odontologia, 63 de farmácia e 53 de química.
A delegação australiana foi formada por representantes da Universidade de Queensland, Universidade de New South Wales (ambas ranqueadas entre as 50 melhores do mundo no QS World University Ranking), Universidade Macquarie e Universidade de Tecnologia de Queensland. O grupo foi liderado pelo professor Paul Young, diretor da School of Chemistry and Molecular Biosciences, da Universidade de Queensland. de fármacos (drug delivery, em inglês). “A expectativa é que em dois anos ou menos nós já tenhamos algum artigo publicado”, explica Marques.
PARCERIAS
Nos primeiros dois dias, os pesquisadores dos dois países apresentaram trabalhos em suas especialidades. Em seguida, coordenadores escolhidos orientaram sessões que buscaram campos de colaboração. Uma sessão de apresentação de pôsteres reunindo as três áreas também foi organizada.
Especialista em virologia, Paul Young desenvolve pesquisas sobre dengue, assunto que há dois anos o aproximou do professor Adriano Mondini, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF). O encontro em Araraquara viabilizou uma parceria entre as instituições, em que a Unesp fornecerá amostras do mosquito coletadas pelo grupo de Mondini e a mestranda Talita Motta Quiarin traba- lhará com Young na Austrália no sequenciamento genético e na análise filogenética desse material.
“O vírus da dengue muda quando ele muda de hospedeiro. Existe uma alteração genética nessa mudança do homem para o mosquito e vice-versa”, explica o docente de Araraquara. “Com o sequenciamento e a análise genética, vamos tentar entender onde ocorrem essas mudanças.”
Nos próximos meses, os projetos propostos deverão ganhar corpo e buscar fontes de financiamento. “Nós vamos procurar editais da Fapesp e do CNPq, mas a Austrália também oferece oportunidades bastante interessantes”, explica Rodrigo Costa Marques, docente do Instituto de Química (IQ).
Os workshops viabilizaram a ida da doutoranda do IQ Taciane Pereira da Costa para pesquisas sobre osteoporose no laboratório da professora Lisbeth Grondahl, também da Universidade de Queensland. Segundo o pesquisador, um aluno de pós-doutorado da Austrália talvez também realize parte de seus estudos no Brasil.
A proposta discutida entre Taciane, o professor Marques, o professor Miguel Jafelicci Junior, orientador da doutoranda, e Gary Schenk, líder do grupo de pesquisa em química de proteínas e enzimologia em Queensland, busca comparar as substâncias estudadas pela Unesp e pela universidade australiana no tratamento da osteoporose usando sistemas de liberação
PROPOSTA TRIPARTITE
O encontro gerou ainda um projeto tripartite para pesquisas sobre biofilmes orais, que são massas de bactérias que se alojam principalmente na superfície dos dentes próxima à gengiva e respondem por 60% das infecções humanas.
Um dos maiores especialistas na área, o professor Lakshman Samaranayake, da Universidade de Queensland, debateu um projeto para o melhoramento de superfícies de implantes odontológicos a fim de prevenir a formação de biofilmes orais. A proposta envolve também o pesquisador Yin Xiao, da Queensland University of Technology, que já levou para a Austrália amostras de materiais desenvolvidos na Faculdade de Odontologia de Araraquara.
“No projeto iremos construir uma cotutela, em que a mestranda Bruna Pimentel, do Programa de Pós-graduação em Reabilitação Oral, irá se preparar para que parte do seu futuro doutorado seja realizada em Brisbane, sob supervisão minha e do professor Samaranayake”, explica o professor Vergani, docente do Departamento de Materiais Odontológicos e Prótese da FO.
Animado com as parcerias, o professor Young compara o processo de colaboração a uma árvore, em cuja copa estariam as visitas e missões institucionais, enquanto o tronco seriam as relações entre os docentes de cada instituição. “A raiz é isso que nós fizemos neste evento: conhecendo os respectivos grupos de pesquisas e o trabalho desenvolvido por cada um, no intuito de estabelecer um diálogo próximo”, comenta.