Notícia

Jornal do Comércio (RS)

Parceria busca desenvolver o biocombustível (1 notícias)

Publicado em 11 de junho de 2013

A Embraer e a Boeing lançaram ontem, em parceria com a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), um plano de ação para desenvolver a indústria do biocombustível para a aviação no País, o bioQAV. “O Brasil tem uma grande vantagem competitiva para desenvolver essa indústria, com toda a experiência do Pro Álcool e do biodiesel”, afirmou a presidente da Boeing no Brasil, Donna Hrinack.

O País já tem algumas linhas de pesquisa para o desenvolvimento do biocombustível, tendo como matéria-prima a cana-de-açúcar, a soja, o eucalipto ou o pinhão-manso. A grande questão é criar escala para que esses produtos cheguem na bomba de abastecimento dos aeroportos a um preço competitivo com o QAV (querosene de aviação).

O presidente da Fapesp, Celso Lafer, afirmou que a entidade do governo paulista está aberta a receber propostas de financiamento por parte do setor privado e de universidades para o desenvolvimento de pesquisas na área. As companhias aéreas do mundo todo estão sendo pressionadas a reduzir as emissões de CO2. A meta é reduzir pela metade as emissões em 2050, tendo como base de comparação as emissões realizadas em 2005.

Já há algumas refinarias certificadas para vender o bioQAV, mas os custos são de três a 10 vezes maiores do que o combustível de petróleo. “Como fabricantes, estamos concentrando esforços para fazer aviões mais eficientes. Mas a única forma de atingir a meta é com o combustível alternativo”, afirmou o vice-presidente executivo de Engenharia e Tecnologia da Embraer, Mauro Kern.

Para o especialista em aviação Adalberto Febeliano, falta uma política governamental para o fomento do setor. “A companhia aérea já está pressionada pelos custos do combustível e ela só vai trocar pela alternativa verde se o custo for o mesmo ou mais barato”, diz Febeliano. “Mas o petróleo um dia vai acabar e não podemos ser pegos de surpresa, precisamos começar a viabilizar essa indústria hoje.” Para ele, o Brasil tem todas as condições agrícolas para produzir muito bioQAV. “Mas é preciso coordenar esforços e dar uma diretriz. Sem isso, a gente não avança.” Um dos pleitos do setor seria a redução de impostos sobre o bioQAV.

Uso maciço de bioquerosene de avião levará até 40 anos, projetam especialistas

O uso maciço de biocombustíveis na aviação deve demorar ainda entre 20 e 40 anos, muito embora diversas iniciativas tenham sido vistas ao longo dos últimos anos e sejam desenvolvidas em todo mundo, por vários representantes da cadeia produtiva do setor. Será uma introdução gradual do bioquerosene de aviação no querosene de origem fóssil, e sem a necessidade de adaptação das estruturas existentes, como dutos, tanques e bombas aos aviões. O novo combustível não terá uma única matéria-prima, mas poderá ser produzido a partir de uma série de fontes. O Brasil deverá ter um papel importante nessa nova indústria.

Essas são algumas das considerações feitas nesta segunda-feira por representantes da Embraer, Boeing e Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) na apresentação dos resultados de uma abrangente pesquisa sobre as oportunidades e os desafios para tornar viáveis os combustíveis de origem vegetal no País, o “Plano de voo para biocombustíveis de aviação no Brasil: plano de ação”. O relatório visa a identificar as lacunas e barreiras relacionadas à pesquisa, produção, transporte e uso do combustível, e pretende ainda favorecer a criação de uma estratégia nacional para fazer do Brasil um País líder no desenvolvimento dessa indústria.

A experiência brasileira no desenvolvimento do etanol e do biodiesel, além da gama de potenciais matérias-primas disponíveis no Brasil, está entre os principais aspectos que levam o País a, potencialmente, liderar o processo. “Temos grande potencial de termos o Brasil numa posição destacada internacionalmente, mas, claramente, há muito o que fazer”, disse o vice-presidente executivo de Engenharia e Tecnologia da Embraer, Mauro Kern. De acordo com Kern, o próximo passo será buscar uma coordenação nas pesquisas nesse segmento, com o envolvimento dos setores privados e governamentais.

O levantamento inicial apresentado apontou que, entre as matérias-primas mais promissoras para a produção de biocombustível de aviação, estão as plantas que contêm açúcares, amido e óleo de resíduos, como lignocelulose, lixo sólido e gases de exaustão industrial. Mas o amplo uso de uma ou mais fontes dependerá da produção em larga escala do biocombustível, que reduzirá o custo. “Hoje, o bioquerosene é mais caro que o querosene fóssil, mas ele tende a se tornar viável com ganhos de escala”, disse o diretor científico da Fapesp, Carlos Henrique Brito Cruz.

O desenvolvimento desses combustíveis de maneira competitiva e comercial é considerado fator crucial para que o setor de aviação possa atender às metas relacionadas à emissão de dióxido de carbono. Kern lembrou que hoje os aviões são 70% mais eficientes em consumo de combustível do que eram há 40 anos e indicou que novos avanços dependeriam da efetiva introdução dos biocombustíveis.