26/05/2016 – Por mais que os biólogos explorem o chão, as árvores e os corpos d’água, eles ainda parecem longe de estimar e explicar a diversidade biológica das florestas tropicais. Mais do que isso, falta explicar como e quando surgiram montanhas, rios e tudo o que está por baixo da mata.
Projetos centrados na Amazônia e na Mata Atlântica agora buscam respostas: biólogos e geólogos vêm trabalhando juntos em busca de decifrar essa história numa disciplina batizada em 2014 como geogenômica pelo geólogo Paul Baker, da universidade Duke, nos Estados Unidos. Um grande impulso para o campo veio da colaboração entre os programas Biota-FAPESP e o Dimensions of Biodiversity, da National Science Foundation (NSF), a principal agência norte-americana de fomento à ciência.
“Projetos dessa natureza precisam de uma abordagem participativa desde a elaboração das perguntas”, comenta a botânica Lúcia Lohmann, do Instituto de Biocoências da Universidade de São Paulo (IB-USP), que coordena com o ornitólogo norte-americano Joel Cracraft, do Museu Americano de História Natural, o primeiro projeto a concretizar a parceria, com foco na Amazônia.
Para integrar as equipes, foi preciso inicialmente vencer barreiras básicas de comunicação. “Um geólogo apresentava uma palestra e os biólogos ficavam perdidos”, conta Lúcia. E vice-versa. “Na primeira reunião passamos duas horas explicando um única slide aos geólogos”, lembra a bióloga Cristina Miyaki, também do IB-USP e coordenadora de um projeto semelhante, porém na Mata Atlântica.
Estabelecido um vocabulário em comum, as trocas começaram a tomar forma. “Agora é obvio que projetos dessa natureza devem contar com pesquisadores de ambas as áreas desde o início, mas não era essa a visão antes de começarmos”, diz Lúcia.
Outro entrave nada trivial à integração do conhecimento é a escassez de dados. “Precisamos ter todas as filogenias datadas, com bancos de dados georreferenciadas para produzir mapas de distribuição antes de poder cruzar com os dados geológicos”, conta Lúcia.
Ela e seus colaboradores têm uma expedição para a Amazônia planejada para este ano. “Vamos coletar dados de diferentes organismos para avaliar em que extensão os rios Negro e Branco representam barreiras para a dispersão”.
Leia todas as matérias da série “Para entender a origem da Floresta”:
Geogenômica
Amazônia
Paisagem Mutante
Clima Flutuante
Mata Atlântica
Fonte: Maria Guimarães / FAPESP