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Para cientista da Nasa, setor agrícola é estratégico no enfrentamento das mudanças climáticas (136 notícias)

Publicado em 02 de setembro de 2024

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As tendências atuais são incompatíveis com um mundo sustentável e equitativo; os sistemas alimentares continuam vulneráveis aos riscos climáticos; e as projeções de mudanças climáticas indicam desafios crescentes: estes foram os principais alertas feitos por Alex Ruane na 7ª Conferência FAPESP 2024, cujo tema foi “ Mudanças Climáticas e Segurança Alimentar ”.

Ruane é pesquisador da Nasa, a agência espacial norte-americana, onde codirige o Grupo de Impactos Climáticos, e cientista associado do Centro de Pesquisa de Sistemas Climáticos da Universidade Columbia, em Nova York. Foi também o autor principal do capítulo 12 do 6º Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC AR6), da Organização das Nações Unidas (ONU), com informações sobre riscos climáticos.

Reiterando o que havia dito em entrevista concedida à Agência FAPESP, o pesquisador enfatizou a necessidade de proatividade no processo de mitigação e adaptação, para o qual as escolhas feitas agora e nos próximos dez anos são cruciais. E disse que “os modelos agrícolas podem nos ajudar a começar a habilitar e implementar ações de adaptação e mitigação que sejam viáveis, equitativas e justas”.

Neste contexto, afirmou, “o mundo está pedindo ao setor agrícola que assuma um desafio quádruplo: aumentar a produção de forma sustentável para fornecer alimentos saudáveis para populações em crescimento e desenvolvimento; adaptar-se às mudanças climáticas e aos extremos climáticos em andamento; mitigar as emissões de terras agrícolas; manter incentivos financeiros para a agricultura”.

O cientista apresentou dados, mostrando que os dez anos compreendidos entre 2011 e 2020 foram, na média, 1,1°C mais quentes do que o período entre 1850 e 1900. Se a tendência atual não for modificada, o mundo poderá ultrapassar na próxima década o limiar de 1,5°C, a partir do qual lidar com a crise climática se tornará excepcionalmente mais difícil. Cinco cenários se apresentam, então, indo do mais favorável, caso o aquecimento fique abaixo de 1,5°C, ao calamitoso, caso a temperatura média global aumente 4°C ou mais.

No pior cenário, a frequência de eventos extremos de calor poderá aumentar até 40 vezes, com incrementos de temperatura superiores a 5°C, e chuvas extremas tenderão a ocorrer 2,7 vezes mais, com acréscimo de precipitação de até mais de 30%.

O pesquisador destacou que não é apenas o aumento médio da temperatura global que afeta a produção agrícola e a segurança alimentar. Mas também os eventos extremos suscitados pela crise climática, que exercem um impacto direto sobre as plantações.

Ruane reiterou o papel vital dos modelos climáticos e agrícolas no planejamento para o futuro: “Esses modelos permitem que os governos e outras partes interessadas desenvolvam estratégias de mitigação”. E discorreu sobre o projeto Agricultural Model Intercomparison and Improvement Project (AgMIP), que ele coordena e cuja missão é melhorar significativamente os modelos agrícolas e as capacidades científicas e tecnológicas, para avaliar os impactos da variabilidade e mudança climática e outras forças motrizes na agricultura, segurança alimentar e pobreza em escalas locais e globais.

Um dado importante, que o pesquisador já havia assinalado na entrevista, é o fato de que as adaptações necessárias para enfrentar as mudanças climáticas exigem investimentos de longo prazo. Por isso, os formuladores de políticas e os investidores precisam começar a planejar agora para garantir que as infraestruturas e tecnologias necessárias estejam disponíveis no futuro.

A palestra também abordou a questão da justiça social no contexto das mudanças climáticas. Ruane argumentou que as soluções para os desafios climáticos e de segurança alimentar “devem ser justas e equitativas, garantindo que as populações mais vulneráveis, que são as mais afetadas pelas mudanças climáticas, recebam o apoio necessário”. E destacou que a justiça social não é apenas uma questão ética, mas também uma necessidade prática para garantir a sustentabilidade das soluções implementadas.

O palestrante concluiu reafirmando a urgência de agir. Destacou que as escolhas que fizermos nas próximas décadas serão cruciais para determinar o futuro do nosso planeta e das gerações vindouras. E encorajou os participantes a pensar em soluções inovadoras e a trabalhar juntos para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças climáticas e pela insegurança alimentar, sublinhando a necessidade de colaboração entre governos, setor privado, sociedade civil e comunidade científica.

A conferência contou com a presença de Marcio de Castro Silva Filho, diretor científico da FAPESP, e Carlos Alfredo Joly, membro da coordenação do Ciclo de Conferências FAPESP 2024. A moderação foi de Jurandir Zullo Junior, do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura da Universidade Estadual de Campinas (Cepagri-Unicamp).

Na abertura do evento, Silva Filho informou que, apesar de o Brasil ser o terceiro produtor mundial de alimentos, apenas atrás dos Estados Unidos e da China, 20% da população do Estado de São Paulo, o mais rico do país, apresentam algum nível de insegurança alimentar. E que 3% padecem de insegurança grave. A boa notícia trazida pelo diretor científico foi que a FAPESP está elaborando um novo programa, focado em segurança alimentar, que deverá se desenvolver em sinergia com outras iniciativas existentes.