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Pantanal começa a sofrer pressões

Publicado em 23 abril 2013

Por Sucena Shkrada Resk

O Pantanal sofre pressão crescente à preservação do seu ecossistema. Os principais motivos para o alerta se deve ao fato de a maior planície inundável do mundo, que recebeu em 2000 o título de Patrimônio da Humanidade e Reserva da Biosfera pela Unesco, sofrer a introdução de espécies invasoras e ser uma região na qual estão planejadas a construção de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) na Bacia do Alto Paraguai, o que pode interferir no seu regime de inundações em médio e longo prazos.

O Pantanal é um grande mosaico, ou complexo, que mistura característica dos demais biomas do Brasil, mantendo poucas características endêmicas. É em grande parte formado por campos de murundu e de capim-carona, que fazem parte do perfil de vegetação do Cerrado. Em outras áreas, o Pantanal mantém características da Caatinga, da Mata Atlântica (de interior), como também apresenta, em alguns trechos, espécies endêmicas amazônicas e a chamada savana estépica (chaco), como explica o engenheiro agrônomo Arnildo Pott, Professor-visitante da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, que foi um dos palestrantes do encontro Bioma Pantanal, promovido pelo Programa Biota-Educação, da Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (FAPESP), no último dia 18, em São Paulo.

Na diversidade pantaneira, o que chama atenção dos cientistas até hoje são mais de 582 espécies de aves, sendo mais de cem delas migratórias. Outro aspecto interessante é o fato deste bioma abrigar exemplares de fósseis mais antigos das Américas, na região de Corumbá. Entre eles, preguiças-gigante e tigres-dente-de-sabre. Segundo o pesquisador Walfrido Moraes Tomas, do Centro de Pesquisa Agropecuária do Pantanal da Embrapa, atualmente, entre as espécies ameaçadas, vulneráveis ou em perigo, 36 são mamíferos, 188 aves e não há registro de réptil, anfíbio ou peixes na listagem. Do território, 15% são áreas convertidas para pastagem ou agricultura, de acordo com dados o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O que causa preocupação, de acordo com Tomas, é a introdução de espécies invasoras, como o mexilhão dourado e o javali. "Há também criações de búfalos, que estão contribuindo para a redução de plantas aquáticas. Devido ao seu peso, eles cavam canais profundos", explica.

Outros perigos em médio e longo prazos são apontados pelo biólogo José Sabino, da Universidade Anhanguera e da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal. "Estão licitadas 115 Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), que podem influenciar o efeito do reservatório na Bacia do Alto Paraguai". Ele explicou que as cabeceiras dos rios dependem de processos migratórios. "Se a piracema tem uma quebra em seu ciclo, algumas espécies de peixes podem ser prejudicadas, como dourado, curimbatá, piraputanga e piau; também as aves piscívoras (que se alimentam de peixes), como tuiuiús, cabeças-seca e garças, também podem sofrer as consequências da quebra no ciclo da piracema".

O Ministério Público Federal e o do Estado de Mato Grosso do Sul ingressaram com ação civil pública no ano passado para suspender a instalação dos empreendimentos. Os órgãos reivindicam que seja feito, preliminarmente, um estudo de impacto conjunto dessas obras, e não individualizado, sob o argumento de que é alta a probabilidade de prejuízo ao fluxo natural de inundações e, portanto, à sobrevivência de quatro mil famílias da região.

Por outro lado, as pesquisas científicas sobre o Pantanal crescem de forma gradativa. "Está sendo implementado o Programa Biota Mato Grosso do Sul. É um processo que já ocorre há três anos e deve resultar na publicação de mais de 120 artigos", disse Tomas. Por meio dessas pesquisas, uma série de recomendações começam a ser feitas, como a criação de uma unidade de gestão da Bacia do Paraguai, uma legislação específica para o Pantanal como área de uso restrito e a criação de mecanismos de remuneração e desoneração aos proprietários que conservam a região.