O estudo publicado na revista Science Advances indica que as medidas de isolamento social que foram adotadas em grande parte do mundo em 2020, durante os primeiros meses da pandemia, mudaram a perceção do passar do tempo.
A investigação, apoiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), indicou que no final de maio de 2020, o primeiro mês de isolamento em muitos estados brasileiros, 65% dos participantes relataram sentir que as horas passavam mais lentamente.
Este fenómeno, classificado pelos autores do estudo como "expansão temporal", foi associado com "o sentimento de solidão" e "a falta de experiências positivas" durante este período.
"Seguimos os voluntários durante cinco meses para ver se esta imagem do início da pandemia mudou com o tempo", disse André Cravo, professor da Universidade Federal de ABC (São Paulo) e primeiro autor do artigo, numa nota.
Os resultados mostraram que a sensação de "expansão temporal" diminuiu ao longo das semanas, mas não houve diferenças significativas em relação à pressão temporal, de acordo com Cravo.
Recrutaram 3.855 voluntários através dos meios de comunicação social, que tiveram de responder a uma série de questionários sobre rotinas diárias e completar uma tarefa que envolvia estimar pequenos intervalos de tempo, premindo um botão quando pensavam que tinham passado 30 ou 60 segundos.
Os resultados finais do estudo foram extraídos dos dados de 900 pessoas que participaram mais regularmente na investigação.
"Durante cinco meses observámos um padrão semelhante: nas semanas em que o indivíduo se sentiu mais só e experimentou um efeito menos positivo, também sentiu que o tempo passou mais lentamente. Já em situações de grande tensão, eles sentiam que o tempo passava rapidamente", explicou Cravo.
De acordo com o estudo, foram os jovens que sentiram que o tempo estava a abrandar mais no início da pandemia, quando as medidas eram mais rígidas.
O Brasil é, juntamente com os Estados Unidos e a Índia, um dos países mais duramente atingidos pelo coronavírus, com cerca de 30,4 milhões de infectados e 663.111 mortos desde o surto da pandemia.