"A agricultura, em escala global, tem três grandes desafios a serem suplantados", diz o pesquisador aposentado do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI), Hiroshi Noda. Ele ministrará a palestra "Sustentabilidade na agricultura familiar amazônica: melhoramento e conservação de recursos genéticos hortícolas", nesta terça-feira (23), na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), na capital paulista.
Hoje, Noda, de 71 anos, recebe a premiação na categoria Produtividade Agrícola Sustentável, do 59º Prêmio Fundação Bunge.
Para o doutor em genética e melhoramento de plantas pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), o primeiro desafio global da área é garantir a segurança alimentar, principalmente, nos países periféricos, onde o acesso ao alimento continua sendo, ainda hoje, um grave problema nas camadas mais pobres da população.
Atualmente, a insegurança alimentar atinge aproximadamente 805 milhões de pessoas, principalmente em áreas urbanas e regiões periféricas, de acordo com informações divulgadas na terça-feira (16) pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
O segundo desafio é aumentar os níveis de sustentabilidade agrícola face ao processo gradual de deterioração ambiental e, o terceiro, é desacelerar e estancar o processo de perda da agrobiodiversidade.
De acordo com o pesquisador, um programa do Inpa, em parceria com a Universidade Federal do Amazonas (Ufam), desde 2001, por meio da pesquisa participativa com agricultura, vem utilizando estratégias de melhoramento genético e conservação in situ (no local) de espécies hortícolas (como abóbora, cubiu, ariá, feijão-macuco, feijão-de-asa) na região amazônica. Todas as ações de pesquisas levam em conta os procedimentos agroecológicos adotados pelos agricultores tradicionais praticados no manejo das plantas nas diferentes etapas do processo produtivo.
Saberes
Noda destaca que a interação entre pesquisadores e agricultores vem estabelecendo o diálogo entre a ciência e o saber tradicional. "O conhecimento derivado desta relação vem produzindo importantes subsídios para o entendimento da dinâmica evolutiva ocorrida na domesticação das espécies cultivadas", diz.
Para ele, outro ponto a considerar é a continuidade do processo de conservação dos recursos genéticos in situ para garantir a autossuficiência alimentar, a sustentabilidade no processo produtivo e a manutenção dos valores culturais dessas populações humanas tradicionais. A conservação in situ é aquela que preserva a variabilidade genética das plantas cultivadas nas propriedades agrícolas onde estas são manejadas.
A palestra faz parte da programação do Seminário sobre Produtividade Agrícola Sustentável, que reunirá especialistas para debater os avanços e desafios na área. Entre eles estão o engenheiro agrônomo Fernando Dini Andreote (Esalq), o pesquisador do Inpa Adalberto Val, José Roberto Postali Parra (Esalq) e Silvio Crestana (Embrapa).
Fonte: http://www.brasil.gov.br/