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Países debatem bionergia sustentável

Publicado em 08 novembro 2009

Por Dayana Aquino - da Redação ADV

A substituição dos combustíveis fósseis pelos biocombustíveis gera uma série de dúvidas relacionadas a sustentabilidade em um cenário de produção em escala. Os questionamentos sobre os reais impactos das cadeias, incentivou um encontro de pesquisadores do Brasil, EUA e Argentina, que se reunirão nessa semana em São Paulo para buscar as respostas.

O encontro acontece em Atibaia, São Paulo, durante o Workshop on Biofuel Technologies and Their Implications for Water and Land Use. De acordo com Marcos Buckeridgem, um dos coordenadores do Programa Fapesp de Pesquisa em Bioenergia (Bioen) e professor do Instituto de Biociências da USP, o objetivo é diagnosticar os problemas a serem enfrentados para reduzir os impactos socioambientais na cadeia da bioenergia. Espera-se gerar subsídios para auxiliar as agências de fomento a identificar áreas-chave de pesquisa científica.

Segundo Buckeridgem, o encontro pretende nivelar diferentes níveis econômicos dos países envolvidos - que geram peculiaridades de demandas e necessidades -, bem como os avanços e tecnologias. Cada país levará 15 pesquisadores, um número considerado pequeno em sua avaliação, já que há uma grande quantidade de estudiosos sobre o assunto em cada país.

Interesses

Os EUA têm particular interesse no etanol celulósico, e pretende levantar informações da experiência brasileira e argentina sobre o tema. Os objetivos da Argentina, disse Buckeridgem, ainda não são claros, mas é provável que o encontro sirva para coletar mais dados sobre produção de biodiesel de algas. O país vizinho usa trigo como matéria prima para produção do energético. O Brasil também está mais interessado em discutir o etanol celulósico a partir do bagaço de cana ou da palha de milho.

Para ele, com as discussões propiciadas pelo encontro, será possível verificar as lacunas a serem superadas nos níveis local, nacional e continental em cada elo das cadeias. Outro ponto será reduzir as contradições existentes sobre os impactos decorrentes da produção de biocombustível e, principalmente, sobre a contribuição deste tipo de geração de energia na mitigação e adaptação climática.


Uso da água e da terra


Todas as culturas de cada país, no entanto, apresentam em comum a preocupação com o uso da água e da terra. O cultivo de cana-de-açúcar, por exemplo, exige grande quantidade de água. Segundo os pesquisadores é preciso avaliar se a fonte de onde a água está sendo retirada pode ser afetada. A mesma preocupação vale para o processo produtivo.

Para José Galizia Tundisi, presidente do Instituto Internacional de Ecologia de São Carlos, os estudos sobre os impactos socioambientais da cana são muito contraditórios. Ele explica que há um processo indireto de emissão de gases do efeito estufa na produção da cultura, pois o nitrogênio e o fósforo, presentes nas lavouras, descem até os lençóis, chegando ao rio ou represa. Em seu estudo, onde tomou como exemplo o rio Tietê, Tundisi chegou a conclusão de que a presença desses dois componentes estimula o surgimento de algas no rio, que se decompõem e produzem gás carbônico.

O crescimento de algas, no entanto, não é causada apenas pelo cultivo de cana, segundo o pesquisador. Ele explica que esse processo também sofre interferência do esgoto lançado no rio, o que reforça o surgimento das algas.

Sobre uma futura tecnologia que utilize as algas dos rios ou represas instaladas em decorrência desse processo, Tundisi diz que pode ser possível estabelecer uma tecnologia nesse sentido, mas ainda não há nenhuma pesquisa sobre o tema.

A questão da terra esbarra na disponibilidade de área agricultável para a bioenergia, sem influenciar nos alimentos. Embora o Brasil não tenha um energético baseado em uma matéria prima que ameace a segurança alimentar e espaço para dobrar sua área agricultável, o mesmo não ocorre com os dois países que participaram dos trabalhos. Os EUA estão preocupados com o valor dos alimentos, que podem sofrer alterações decorrentes da competição do milho na produção de etanol, já que o milho é utilizado direta e indiretamente como alimento. O mesmo dilema é enfrentado pela Argentina, que tem seu biodiesel baseado no trigo.


Especialistas

Participarão das discussões especialistas das áreas de hidrologia, ciências do solo, climatologia, ecologia, botânica, economia, engenharia química e agronômica, entre outras. Os resultados serão apresentados por Marcos Buckeridge; Robert Anex, professor da Iowa State University, PhD em engenharia ambiental e civil, e Ernesto Quiles, Diretor de Agroenergia da Secretaria de Agricultura, Pecuária, Pesca e Alimentação do Ministério da Produção, da Argentina.