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País pode transitar para economia de baixo carbono com refinarias flex, diz cientista

Publicado em 07 novembro 2013

Uma mudança no parque de refino brasileiro pode levar o País a transitar de forma suave para uma economia de baixo carbono. A ideia é transformar as unidades existentes em "refinarias flex", capazes de processar simultaneamente matérias-primas de origem fóssil e biomassa.

A proposta da professora da Escola de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Ofélia de Queiroz Fernandes Araújo foi apresentada no 2.º Workshop Fino-brasileiro sobre Conversão da Biomassa realizado pela Rede de Excelência em Biomassa e Energia Renovável (Nobre) na sede de Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Segundo Ofélia, uma das coordenadoras do Laboratório de Hidrorrefino, Engenharia de Processos e Termodinâmica Aplicada (H2CIN) da UFRJ, o conceito da "refinaria flex" está sendo introduzido no âmbito da Rede Nobre e, atualmente, o grupo está simulando as etapas híbridas, como o processo de gaseificação de biomassa.

"O petróleo é um líquido com milhões de moléculas diferentes que são fracionadas e convertidas em refinarias para dar origem à gasolina, ao diesel e a uma série de outros derivados. Nada se joga fora em uma refinaria, pois foram desenvolvidos processos para tratar até mesmo os resíduos mais pesados e recalcitrantes ("fundo de barril"). Portanto, lá também há condições de tratar outra matéria-prima não convencional, que é a biomassa", explica Ofélia.

Por não competirem com a produção de alimentos, os resíduos da agroindústria seriam a matéria-prima ideal para abastecer as refinarias híbridas, diz a cientista.

Por meio de um processo químico conhecido como gaseificação, seria possível transformar esse material em "gás de síntese" - uma mistura de gases empregada em diversas reações de síntese de produtos da indústria química. Essa mistura é composta principalmente de hidrogênio e monóxido de carbono e pode ser queimada diretamente para gerar energia e vapor (cogeração) ou servir de matéria-prima para obtenção de metanol, ureia, amônia (fertilizante) e olefinas (usadas na fabricação de alguns tipos de plástico e borracha sintética).

"Com auxílio de catalisadores e condições ideais de pressão e temperatura dentro de um reator, é possível transformar o gás de síntese em diversos produtos químicos de interesse econômico. Por meio de um processo conhecido como Fischer-Tropsch, é possível obter até mesmo diesel e gasolina. Transforma-se em ouro o que era resíduo", afirma Ofélia em entrevista à Agência Fapesp.

O equipamento necessário para fazer o processamento da biomassa - o gaseificador - já existe em algumas refinarias de petróleo no mundo e é considerado hoje uma tecnologia madura. Segundo Araújo, há cerca de 20 anos, seu uso ainda estava restrito ao âmbito de pesquisa, mas existem atualmente experiências em escala industrial.

"Impulsionado pela comprovação das grandes reservas de óleo e gás natural na camada pré-sal da plataforma marítima brasileira, o governo federal fez fortes investimentos na ampliação do parque de refino. O que propomos é usar essa infraestrutura para coprocessar matéria-prima de origem fóssil e biomassa. O compartilhamento da estrutura instalada reduziria o custo de processamento representado por refinarias exclusivamente voltadas para biomassa, fazendo a transição suave para uma economia ambientalmente sustentável", afirma a cientista.