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País pode perder 30% da capacidade de geração hidrelétrica

Publicado em 22 junho 2012

No cenário das mudanças climáticas, o Brasil pode perder cerca de 30% da sua capacidade de geração hidrelétrica entre 2035 e 2040, afirma o professor do Programa de Planejamento Energético da Coppe/UFRJ e membro do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) Roberto Schaeffer.

De acordo com o especialista, o mundo lança na atmosfera anualmente algo em torno de 45 bilhões de toneladas de dióxido de carbono. Esse volume vem aumentando ano após ano. Se a trajetória não for alterada, em 2020 o volume lançado excederá em 12 bilhões o que deveria ser emitido naquele ano para que a temperatura média global do planeta não aumente acima dos perigosos 2.º C.

Durante a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 15), em 2009, os especialistas indicaram que um aumento de 2º C em relação à temperatura média observada nos anos de 1800, antes do aquecimento global, seria o cenário de menor risco para a população do planeta. Entretanto, a temperatura média já avançou 0,8.º. Somente no período de 1992 a 2010, aumentou 0,4.º C.

"Já comprometemos 1,2.º C. Quando se avalia o comportamento das emissões ao longo do tempo, o cenário que se coloca é preocupante: se repetirmos o que ocorreu nos últimos 200 anos e nada for feito, a tendência é chegarmos a 4º C ou 5º C de elevação", avalia Schaeffer.

"Nossa parte mais vulnerável é o setor elétrico, em particular a grande dependência de usinas hidrelétricas. Hoje, 85% da geração deriva de usinas hidrelétricas. Quando fazemos uma projeção para 2035, mesmo levando em conta a ampliação do uso de outras fontes, dificilmente teremos menos que 75% da energia elétrica vindo de hidrelétricas", diz.

"No entanto, no cenário que trabalhamos do que seria um sistema elétrico brasileiro com mudança climática, vemos que há uma tendência de o Nordeste, hoje semiárido, virar quase um deserto, e de a Amazônia passar por um processo de savanização", explica durante entrevista à Agência Fapesp.

Ocorre que o avanço da geração hidrelétrica no País se faz com a construção de usinas hidrelétricas de fio d´água. Essas unidades funcionam de forma diferente das hidrelétricas tradicionais. Elas não requerem reservatório, geram energia com o fluxo de água do rio. Logo, com a mudança climática, haverá períodos mais secos, com menos água nos rios, que levariam as unidades a gerar menos energia, explica o especialista.

"Para o mercado não ficar desabastecido, teríamos que instalar outras plantas que iriam repor aquela energia que a hidrelétrica não poderia gerar, como as plantas térmicas, por exemplo. Seria necessário um investimento em torno de US$ 50 bilhões para fazer com que o sistema elétrico brasileiro se tornasse invulnerável a um cenário de mudança climática", estima.