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Pacientes com Parkinson que sofrem de congelamento da marcha têm pior qualidade de sono (32 notícias)

Publicado em 28 de fevereiro de 2024

Pacientes com Parkinson que apresentam um sintoma conhecido como congelamento da marcha – caracterizado pela perda repentina da capacidade de mover os pés, podendo levar a quedas – acordam mais vezes durante a noite, sentem maior necessidade de dormir durante o dia e apresentam um déficit de movimento dos olhos que pode afetar o sono REM, fundamental para a manutenção das funções cognitivas.

A conclusão é de um estudo pela Fapesp e conduzido por pesquisadores das universidades Estadual Paulista (Unesp) e de Grenoble (França). Os resultados foram na revista Sleep Medicine

Após uma revisão sistemática de 20 estudos sobre qualidade do sono e congelamento da marcha, os autores observaram a correlação entre esses dois sintomas importantes da doença de Parkinson. O achado, segundo eles, pode ser determinante para a criação de novos protocolos de tratamento.

“Havia uma suspeita de que esses dois fenômenos estivessem interligados e a análise dos estudos reforça a hipótese. Isso acontece porque o congelamento da marcha apresenta uma fisiopatologia similar à questão da qualidade do sono [ou seja, os processos fisiológicos que estão alterados são similares]. Os estudos mostram que tanto pacientes com um sintoma quanto com o outro apresentam uma lesão cerebral no núcleo pedúnculo-pontino, região localizada nos gânglios da base”, explica , coordenador do Laboratório de Pesquisa em Movimento Humano (Movi-Lab) e do projeto de extensão “Ativa Parkinson” na Unesp de Bauru.

No entanto, ressalta o pesquisador, ainda não se sabe o que vem primeiro: o congelamento da marcha ou a piora na qualidade de sono. “Os estudos mostram que a chance de um paciente com congelamento da marcha apresentar piora exacerbada na qualidade do sono é acima de 95%. Mas também já se observou que uma piora acentuada na qualidade do sono tende a ser um sinal de que o indivíduo possa desenvolver no futuro o congelamento da marcha. Portanto, são sintomas interligados e ainda não foi possível definir qual surge primeiro”, afirma.

Tratamento

A doença de Parkinson afeta o sono de modo geral, independentemente de o paciente apresentar o congelamento da marcha. Em estudo ainda não publicado, o grupo de Barbieri e os colaboradores de Grenoble compararam o efeito da medicação na qualidade do sono.

“Observamos que quando a medicação dopaminérgica é retirada para dormir há uma piora na qualidade do sono”, revela.

Embora não tenha tratamento específico, o congelamento da marcha é um dos principais motivos de queda entre portadores da doença de Parkinson. Junto com tremores e dano cognitivo, o problema é um dos responsáveis pela perda de qualidade de vida entre os indivíduos com a doença. “O congelamento da marcha não caracteriza um estágio mais avançado do Parkinson. Não é isso, não é todo paciente que vai desenvolver o sintoma, mas está confirmado que ele afeta a qualidade do sono”, conta.

Barbieri explica que o trabalho de revisão foi importante para agrupar diferentes pesquisas e os achados sobre a relação entre congelamento da marcha e qualidade do sono. “Notamos, por exemplo, que a maioria dos estudos se vale de critérios indiretos para mensurar a qualidade do sono. São medidas que vêm de questionários. Vimos só dois trabalhos que usaram medidas diretas por meio de polissonografia [exame que monitora as variáveis fisiológicas durante o sono] para avaliar a qualidade do sono. O mesmo ocorre com o congelamento do andar. É diagnosticado por meio de questionários. Por esse motivo, estamos iniciando um novo estudo, em parceria com pesquisadores norte-americanos, para tentar monitorar de forma direta o congelamento da marcha”, adianta à Agência Fapesp.