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FMUSP - Faculdade de Medicina da USP

Pacientes com COVID-19 reduziram risco de morte com uso de terapias celulares (71 notícias)

Publicado em 17 de agosto de 2023

O procedimento de terapias celulares consiste na reposição de células saudáveis no organismo de pacientes para restaurar ou alterar determinados conjuntos celulares. Também é realizada a modulação da função de um conjunto de células doentes pela injeção de novas células ou produtos celulares.

" As terapias celulares têm avançado muito nos últimos anos e vem sido usadas para tratar câncer, doenças autoimunes, cardíacas e infecciosas. Durante a pandemia, elas foram utilizadas para o tratamento de COVID-19 em diversos ensaios clínicos. Nosso trabalho é o primeiro a juntar todos esses dados espalhados pelo mundo e a verificar, por meio de uma meta-análise [ método estatístico que permite agregar dados de diversos estudos independentes ], o funcionamento dessas terapias no combate à nova doença, assim como para os problemas de saúde desencadeados pela COVID-19", explica Otávio Cabral-Marques, professor da Faculdade de Medicina da USP e coordenador da pesquisa.

O estudo permite ser usadas células-tronco ou suas derivadas, do próprio paciente (autólogas) ou de um doador (alogênicas), que são cultivadas ou modificadas fora do corpo antes de serem administradas, revelando que os tipos celulares mais utilizados nos ensaios clínicos para tratamento da COVID-19 foram as células estromais ou tronco mesenquimais multipotentes (oriundas do tecido conjuntivo), células natural killer (provenientes de linfoblastos) e células mononucleares (derivadas do sangue), respondendo por 72%, 9% e 6% dos estudos, respectivamente.

Segundo o professor Otávio, desde o começo da pandemia, a terapia com células-tronco e os modelos de organoides derivados dessas células receberam ampla atenção como um novo método de tratamento e estudo da COVID-19. " Isso ocorre porque as células-tronco, em especial as mesenquimais, têm apresentado um significativo poder de regulação imune e funções de reparo de dano tecidual. Por exemplo, em relação ao pulmão ensaios clínicos apontam – em menor ou maior grau – que as terapias celulares avançadas podem limitar a resposta inflamatória grave em pacientes infectados pelo SARS-CoV-2, reduzindo a lesão pulmonar", detalhou o pesquisador. O esperado com essas terapias é que ocorra a melhora da função pulmonar, desempenhando um papel positivo contra a fibrose.

"Embora os resultados dos estudos mostrem que as terapias celulares avançadas possam vir a se estabelecer como um tratamento adjuvante importante para pacientes afetados pela COVID-19, em um futuro próximo, a prevenção da doença por meio da vacinação ainda continua sendo a melhor proteção", aponta o professor Otávio.

Estudo realizado por pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP em parceria com cientistas alemães e norte-americanos apontam que o uso de terapias celulares em pacientes com COVID-19 reduziu o risco de morte pela doença em 60%.

Divulgada na revista Frontiers in Immunology, que compilou os dados de 195 ensaios clínicos de 30 países, entre janeiro de 2020 e dezembro de 2021.

Números

Os ensaios foram conduzidos em 30 países com destaque para EUA, China, Irã e Espanha. No entanto, eram estudos muito heterogêneos, não só com número de participantes muito variados, como também com desenhos e metodologias diferentes. Para a realização da meta-análise, a equipe de pesquisadores fez a curadoria dos dados a serem analisados pelo banco de dados Cell Trials Data e incluíram informações sobre dados nacionais, além de excluir informações como falsos positivos e contagens duplas, por exemplo.

Os autores apontam que houve também variação em relação às etapas da pesquisa. Em muitos países, sobretudo na Europa, há uma regulamentação rígida sobre terapia celular humana, que limita o número de produtos de terapia celular. Assim, 56% dos estudos nem sequer atingiram a fase 2 da pesquisa clínica – que abrange pacientes com a doença e tem o objetivo de estabelecer a segurança no curto prazo, a dose-resposta e a eficácia do produto. Outro limitador foi o fato de que 31% dos ensaios clínicos analisados não contavam com grupo-controle.

" Para chegar a esse valor de redução do risco de morte foi preciso levar em consideração os achados e características dos diferentes estudos, além de fazer algumas correções e estimativas", explica o doutorando Igor Salerno Filgueiras, coautor do artigo. "Existem técnicas para padronizar esses dados, eliminar vieses e ter uma visão imparcial. Isso permite chegar a conclusões que muitas vezes passam despercebidas em um estudo específico, mas, quando reforçadas por outras análises, ganham uma visão científica interessante", avalia Dennyson Leandro M. Fonseca, bolsista de doutorado da FAPESP que integra a equipe.

Fonte: Agência FAPESP (Maria Fernanda Ziegler)