O mineiro Vamberto, 63 anos, vai ter alta após ser submetido a uma terapia genética realizada pela primeira vez na América Latina. Ele tinha um câncer em fase terminal e tomava morfina todos os dias.
Servidor público aposentado, Vamberto, que tinha previsão de vida de um ano, deixará o hospital no próximo sábado (12) livre dos sintomas do câncer. Graças a um método 100% brasileiro, baseado em uma técnica de terapia genética descoberta no exterior e conhecida como CART-Cell.
Doses diárias de morfina
Vamberto tomava morfina diariamente, para aliviar as fortes dores causadas pela doença. Quatro dias após o tratamento, deixou de sentir as dores; uma semana depois, voltou a andar e o câncer entrou em remissão.
Segundo o hematologista Dimas Tadeu Covas, a primeira fase do tratamento foi “milagrosa”.
“Não tem mais manifestações da doença, ele era cheio de nódulos linfáticos pelo corpo. Sumiram todos. Ele tinha uma dor intratável, dependia de morfina todo dia. É uma história com final muito feliz”, afirma o coordenador do Centro de Terapia Celular (CTC-Fapesp) e do Instituto Nacional de Células Tronco e Terapia Celular, apoiado pelo CNPq e pelo Ministério da Saúde.
Quimioterapia e radioterapia
Vamberto tentou quimioterapia e radioterapia para curar o câncer, mas seu corpo não respondeu bem a nenhuma das técnicas. Com dose máxima de morfina, deu entrada no dia 9 de setembro no Hospital das Clínicas em Ribeirão Preto sob fortes dores, perda de peso e dificuldades para andar. O tumor tinha se espalhado para os ossos.
A última alternativa dos médicos foi incluir o paciente em um “protocolo de pesquisa” e testar a nova terapia: até então, nunca aplicada no Brasil.
Método 100% brasileiro
Os pesquisadores da USP, apoiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pelo Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), desenvolveram uma maneira própria de aplicar a técnica CART-Cell, criada nos EUA. Lá, os tratamentos comerciais já receberam aprovação e podem custar mais de 2 milhões de reais.
Outros países, como China e Japão, além da Europa, já utilizam a terapia genética. Ela manipula as células de defesa do corpo (linfócitos T) para combaterem as células causadoras do câncer. Esse ataque é contínuo e específico, bastando uma dose única, na maioria das vezes.
“As células vão crescer no organismo do paciente e vão combater o tumor”, explica Renato Luiz Cunha, outro dos responsáveis pelo estudo. “E desenvolvemos uma tecnologia 100% brasileira, de um tratamento que nos EUA custa mais de US$ 1 milhão. Esperamos que ela possa ser, no futuro, acessível a todos os pacientes do SUS”, comemora Cunha.
Em 2018, Cunha recebeu o prêmio da Associação Americana de Hematologia (ASH), nos EUA, para desenvolver o estudo da terapia genética no Brasil.