PESQUISA Bebida à base da leguminosa desenvolvida no Brasil previne doenças intestinais
Uma nova bebida fermentada à base de soja vem despertando o interesse da iniciativa privada. Enquadrada no conceito de alimento simbiótico, o produto reúne microorganismos com funções prebióticas e probióticas, que atuam conjuntamente para manter o equilíbrio da flora intestinal. Dessa forma impedem a proliferação de bactérias patogênicas, ou seja, que causam doenças como infecção intestinal, insuficiência pancreática, até depressão.
De acordo com o professor Francisco Maugeri Filho, coordenador do projeto, desenvolvido pela Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) da Universidade de Campinas (Unicamp), a bebida ainda está sendo processada em escala laboratorial. O próximo passo será produzi-la em planta piloto, etapa imediatamente anterior à da industrialização. A universidade está pedindo o registro da patente industrial do produto.
Algumas empresas têm mantido contato com os pesquisadores, com o objetivo de firmar um acordo que permita a produção em larga escala. "A área médica também tem voltado a sua atenção para o produto, em virtude dos benefícios que ele pode trazer à saúde", revela o especialista Maugeri. O extrato hidrossolúvel de soja, nome técnico da bebida, é resultado de vários anos de estudos. Segundo matéria publicada no Jornal da Unicamp, os cientistas têm trabalhado, entre outras áreas, na formulação dos chamados alimentos funcionais, ou seja, aqueles que oferecem às pessoas mais do que nutrientes e energia. Eles também têm a propriedade de desempenhar funções benéficas ao organismo humano, como prevenir doenças, proteger órgãos e tecidos e manter as reações básicas. Em outras palavras, têm ação terapêutica.
Os pesquisadores revelam que optaram por uma bebida à base de soja porque muitas pessoas - perto de metade da população mundial - são intolerantes ao leite e seus derivados. Além disso, o grão contém substâncias importantes para a saúde humana, como as isoflavonas, atualmente empregadas no tratamento hormonal de mulheres que entram na menopausa. Para chegar ao alimento simbiótico, os especialistas da Unicamp primeiramente fizeram uma seleção de microorganismos com propriedade prebióticas.
Ainda de acordo com o professor da FEA, a expectativa é de que dentro de aproximadamente seis meses a tecnologia já esteja pronta para ser transferida para o setor produtiva Segundo ele, o produto final será semelhante às bebidas à base de soja presentes no mercado, mas com as vantagens já mencionadas. Deverá ser mantido resfriado e terá uma vida útil de prateleira de 30 dias. Os estudos realizados pelos especialistas contaram com financiamento e concessão de bolsas de estudos da Capes, CNPq e Fapesp.
AMOSTRAS - Foram coletadas 500 amostras de leveduras presentes em flores e frutos de diversas regiões brasileiras, como Pantanal, Floresta Amazônica, Serra do Mar e Cerrada Destas, cinco foram escolhidas para compor a bebida. O docente da FEA explica que, embora sejam benéficos à saúde, os agentes prebióticos não são absorvidos pelo organismo. Além disso, eles são os alimentos preferenciais dos microorganismos probióticos - bifidobactérias, por exemplo -, que, ao se proliferarem, combatem as bactérias patogênicas presentes no intestino, potenciais causadoras de enfermidades.
Até pouco tempo atrás, destaca Maugeri, acreditava-se que o intestino era responsável apenas pela assimilação dos nutrientes fornecidos pela comida. Recentemente, descobriu-se que os microorganismos do trato intestinal podem ser responsáveis pelo desenvolvimento de uma série de doenças. "A prevalência das bactérias patogênicas sobre os agentes probióticos promove um desequilíbrio no organismo, o que traz reflexos importantes para o estado geral da pessoa", explica o docente da FEA. Segundo ele, alguns neurotransmissores, como a serotonina, popularmente conhecida como "hormônio do humor" são produzidas no intestino. Ou seja, a deficiência na geração dessa substância pode concorrer para o aparecimento da depressão, mal anteriormente associado apenas ao âmbito da psique.
"Os alimentos simbióticos têm justamente a missão de ajudar a prevenir esses problemas. Estamos partindo de uma bebida relativamente simples para proporcionar maior bem-estar às pessoas", afirma o professor Maugeri. ^Segundo o especialista, antes de ser produzida comercialmente, a bebida à base de soja ainda terá que cumprir algumas etapas. Além da fabricação em planta piloto, será necessário promover testes sensoriais, de modo a escolher que aromatizantes devem ser adicionados ao produto e escolher a embalagem mais adequada.
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Diário da Manhã (GO)